The New York Times
14:37 18/12
Michael Goldfarb
Independente de como acabe a guerra, Iraque não é Vietnã.
14:37 18/12
Michael Goldfarb
Independente de como acabe a guerra, Iraque não é Vietnã.
Isso é verdade não só militar quanto politicamente, mas também nos relatórios de ambos os conflitos.
Para muitos jornalistas que foram ao Vietnã e, conseqüentemente, escreveram livros sobre a guerra, a experiência pode ser entendida somente como um pesadelo alucinado, e eles descreveram de maneira ficcional para combinar.
A realidade do Iraque é muito mais assustadora do que uma viagem errada de ácido, mas escrever sobre esse fiasco tem sido claro e sóbrio.
“A vida imperial na cidade de esmeraldas”, de Raijy Chandrasekaran é um bom exemplo.
Leia abaixo o texto
Esse livro conta a história burocrática do primeiro ano do Iraque, o ano depois da queda se Saddam Hussein, quando os EUA eram a força de ocupação e responsável pela administração do país. O mecanismo principal para esse trabalho era a Coalizão Autoridade Temporária, baseada na Zona Verde, uma área delimitada e cercada criada ao redor do palácio de Saddam Hussein em Bagdá, do lado oeste do Tigre. Chandrasekaran, o chefe do escritório do Washington Post em Bagdá durante esse período, cataloga uma combinação letal de arrogância oficial e inaptidão atrás daquelas paredes que condenaram o Iraque ao seu presente sangrento, assim como o poder militar insuficiente fez.
Para começar, a política de recrutamento do C.P. A. teria envergonhado Tammany Hall. Lealdade a George W. Bush e ao partido republicano foi aparentemente o principal critério para conseguir emprego no C.P.A.. Para determinar qual posição era ideal no Iraque, perguntaram para alguns empregados suas opiniões sobre Roe V. Wade. Outros tiveram que responder para quem eles votaram em 2000. Deputados republicanos, pensadores conservadores e ativistas de partidos foram solicitados pelo intermediário da Casa Branca no Pentágono, James O´Beirne, para sugerir possíveis empregados.
Antes de a guerra começar, Frederick M. Burkle Jr. foi designado para analisar o sistema de saúde do Iraque. Ele tinha um histórico de matar: médico com bacharel em saúde pública e pós-graduações em Harvard, Yale, Dartmouth e Berkeley. Ele também tinha duas estrelas de bronze por serviços militares na marinha, assim como experiência de campo com os curdos do norte do Iraque depois da guerra do Golfo de 1991. Uma semana depois de sua liberação, disseram que ele seria substituído porque, de acordo com Chandrasekaran, “um oficial da USAID disse para ele que a Casa Branca queria alguém legalista para o emprego”.
Esse legalista era James K. Hayeman Jr., que foi recomendado pelo ex-governador do Michigan John Engler. O histórico de Hayeman incluía administrar uma agência de adoção cristã que aconselhava mulheres jovens contra abortos. Ele passou a maior parte de seu tempo no Iraque preparando para privatizar a firma de estoques de remédio do estado – talvez não fosse a prioridade mais importante considerando que quase todos os hospitais do país haviam sido saqueados nos dias logo após a queda de Saddam.
Página após página, Chandrasekaran detalha outros projetos da recente ideologia republicana do C.P.A – como modernizar o estoque de câmbio de Bagdá, ou privatizar rapidamente todos os serviços que eram previamente providenciados pelo estado. Algumas dessas idéias teriam sido louváveis se eles tivessem sido planejados em um país com sistemas de água e energia funcionando, e que não estivesse à beira da anarquia.
Mas como esses jovens americanos iriam saber como era a vida para iraquianos normais se eles nunca saíram da Zona Verde? Ao invés, eles transformaram o lugar em algo parecido a um campus de faculdade. Depois de um dia sonhando com projetos improváveis, os garotos faziam o que garotos fazem – iam para um bar e procuravam companhia. Já para os iraquianos, eles estavam ressaltados com o descuido.
Dirigindo esse mundo surreal está o vice-rei, Paul L. Bremer III, que aparece nesse livro como um homem que conhecia sua mente e não mudaria suas decisões devido a realidade inconveniente da vida no Iraque fora do mundo cercado. Tudo isso seria engraçado se dez dos milhares dos milhares de iraquianos e soldados americanos não morressem devido às decisões feitas pelo C. P. A., o Pentágono e a Casa Branca.
Para Chandrasekaran, a arrogância, a teimosia e o desejo de ascensão profissional se cristalizaram no fim de março de 2004, quando Bremer decidiu fechar um jornal publicado pelo xiita radical Moktada al-Sadr. Unilateralmente, ele fez a decisão sem pensar direito nas possíveis conseqüências. Ele não tinha nenhum plano militar caso Sadr decidisse brigar, e previsivelmente, ele brigou. Em alguns dias quatro seguranças americanos sofreram uma emboscada e foram mortos, seus corpos mutilados pendurados na ponte sobre o Eufrates.
Leia abaixo o texto
Esse livro conta a história burocrática do primeiro ano do Iraque, o ano depois da queda se Saddam Hussein, quando os EUA eram a força de ocupação e responsável pela administração do país. O mecanismo principal para esse trabalho era a Coalizão Autoridade Temporária, baseada na Zona Verde, uma área delimitada e cercada criada ao redor do palácio de Saddam Hussein em Bagdá, do lado oeste do Tigre. Chandrasekaran, o chefe do escritório do Washington Post em Bagdá durante esse período, cataloga uma combinação letal de arrogância oficial e inaptidão atrás daquelas paredes que condenaram o Iraque ao seu presente sangrento, assim como o poder militar insuficiente fez.
Para começar, a política de recrutamento do C.P. A. teria envergonhado Tammany Hall. Lealdade a George W. Bush e ao partido republicano foi aparentemente o principal critério para conseguir emprego no C.P.A.. Para determinar qual posição era ideal no Iraque, perguntaram para alguns empregados suas opiniões sobre Roe V. Wade. Outros tiveram que responder para quem eles votaram em 2000. Deputados republicanos, pensadores conservadores e ativistas de partidos foram solicitados pelo intermediário da Casa Branca no Pentágono, James O´Beirne, para sugerir possíveis empregados.
Antes de a guerra começar, Frederick M. Burkle Jr. foi designado para analisar o sistema de saúde do Iraque. Ele tinha um histórico de matar: médico com bacharel em saúde pública e pós-graduações em Harvard, Yale, Dartmouth e Berkeley. Ele também tinha duas estrelas de bronze por serviços militares na marinha, assim como experiência de campo com os curdos do norte do Iraque depois da guerra do Golfo de 1991. Uma semana depois de sua liberação, disseram que ele seria substituído porque, de acordo com Chandrasekaran, “um oficial da USAID disse para ele que a Casa Branca queria alguém legalista para o emprego”.
Esse legalista era James K. Hayeman Jr., que foi recomendado pelo ex-governador do Michigan John Engler. O histórico de Hayeman incluía administrar uma agência de adoção cristã que aconselhava mulheres jovens contra abortos. Ele passou a maior parte de seu tempo no Iraque preparando para privatizar a firma de estoques de remédio do estado – talvez não fosse a prioridade mais importante considerando que quase todos os hospitais do país haviam sido saqueados nos dias logo após a queda de Saddam.
Página após página, Chandrasekaran detalha outros projetos da recente ideologia republicana do C.P.A – como modernizar o estoque de câmbio de Bagdá, ou privatizar rapidamente todos os serviços que eram previamente providenciados pelo estado. Algumas dessas idéias teriam sido louváveis se eles tivessem sido planejados em um país com sistemas de água e energia funcionando, e que não estivesse à beira da anarquia.
Mas como esses jovens americanos iriam saber como era a vida para iraquianos normais se eles nunca saíram da Zona Verde? Ao invés, eles transformaram o lugar em algo parecido a um campus de faculdade. Depois de um dia sonhando com projetos improváveis, os garotos faziam o que garotos fazem – iam para um bar e procuravam companhia. Já para os iraquianos, eles estavam ressaltados com o descuido.
Dirigindo esse mundo surreal está o vice-rei, Paul L. Bremer III, que aparece nesse livro como um homem que conhecia sua mente e não mudaria suas decisões devido a realidade inconveniente da vida no Iraque fora do mundo cercado. Tudo isso seria engraçado se dez dos milhares dos milhares de iraquianos e soldados americanos não morressem devido às decisões feitas pelo C. P. A., o Pentágono e a Casa Branca.
Para Chandrasekaran, a arrogância, a teimosia e o desejo de ascensão profissional se cristalizaram no fim de março de 2004, quando Bremer decidiu fechar um jornal publicado pelo xiita radical Moktada al-Sadr. Unilateralmente, ele fez a decisão sem pensar direito nas possíveis conseqüências. Ele não tinha nenhum plano militar caso Sadr decidisse brigar, e previsivelmente, ele brigou. Em alguns dias quatro seguranças americanos sofreram uma emboscada e foram mortos, seus corpos mutilados pendurados na ponte sobre o Eufrates.
De repente, um ano depois da queda de Hussein, os EUA lutavam com insurgentes xiitas de um lado, e rebeldes sunitas do outro.
Essa é a única vez que o exército militar aparece na história como civil, mas sua descrição do conflito entre o pelotão da Primeira Cavalaria do Exército e os soldados do exército Mahdi é absolutamente brilhante.
É uma história de testemunhos de alto nível.
Se há uma coisa que falta é o próprio autor.
Se há uma coisa que falta é o próprio autor.
Ler um livro de 300 páginas é como se você atravessasse o país de carro com um estranho que você conheceu em um mural de avisos. Quando você chega no Mississipi você espera conhecer razoavelmente bem sua companhia. Esse não é o caso aqui. Os pontos de vista de Chandrasekaran só aparecem quase no fim do livro.
Eu acho que eu entendo porque. Ele aderiu ao código profissional do jornalismo: relatar fatos com neutralidade e objetividade. Entretanto, ás vezes eu acho que os rígidos ataques políticos ao profissionalismo de repórteres no Iraque os forçou a ter um ponto de vista bem restrito sobre o que objetividade e neutralidade significam. Os resultados daqueles de nós que cobriram a invasão têm uma obrigação não somente como jornalistas, mas como cidadãos. Nós tivemos uma visão privilegiada desses eventos que marcaram época (e nós não conseguimos nossos empregos fazendo provas sobre aborto. Nós temos o dever de sermos testemunhas precisas, pessoais e apaixonadas – somos mais que compiladores de fatos).
Teria valido a pena se Chandrasekaran tivesse nos dado uma noção maior sobre o que ele achou da queda de Saddam e o que ele sentiu ao voltar para Washington depois de ter visto os resultados sangrentos de suas políticas. Mas essa é uma diferença filosófica que eu tenho com o autor. Esse é um livro escrito de maneira clara e felizmente não é didático.
Eu acho que eu entendo porque. Ele aderiu ao código profissional do jornalismo: relatar fatos com neutralidade e objetividade. Entretanto, ás vezes eu acho que os rígidos ataques políticos ao profissionalismo de repórteres no Iraque os forçou a ter um ponto de vista bem restrito sobre o que objetividade e neutralidade significam. Os resultados daqueles de nós que cobriram a invasão têm uma obrigação não somente como jornalistas, mas como cidadãos. Nós tivemos uma visão privilegiada desses eventos que marcaram época (e nós não conseguimos nossos empregos fazendo provas sobre aborto. Nós temos o dever de sermos testemunhas precisas, pessoais e apaixonadas – somos mais que compiladores de fatos).
Teria valido a pena se Chandrasekaran tivesse nos dado uma noção maior sobre o que ele achou da queda de Saddam e o que ele sentiu ao voltar para Washington depois de ter visto os resultados sangrentos de suas políticas. Mas essa é uma diferença filosófica que eu tenho com o autor. Esse é um livro escrito de maneira clara e felizmente não é didático.
Deveria ser lido por qualquer um que quer entender como as coisas foram mal no Iraque.
Michael Goldfarb é o autor de “Guerra de Ahmad, Paz de Ahmad: sobrevivendo com Saddam morrendo no novo Iraque
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