domingo, 17 de junho de 2007

Inverdades sobre o Presidente Saddam

Acusações a Saddam são da mesma laia das “armas de destruição em massa”

Em sua nota sobre Sadam, o Itamaraty, muito justamente, denunciou a invasão do Iraque, a fraude das “armas de destruição em massa” e defendeu a soberania iraquiana.

No entanto, inadvertidamente, a nota repete algumas produções saídas da fábrica onde foram forjicadas as “armas de destruição em massa”.

O “caso de Dujail” foi a condenação pela Justiça dos mercenários do “Dawa”, que, em plena guerra, a serviço do inimigo, tentaram assassinar o presidente.

As mortes de curdos por gás foram causadas pelo exército iraniano, segundo até a CIA e o “Washington Post”.

Seria muito surpreendente se os que mentiram para invadir o Iraque estivessem falando a verdade sobre o seu líder.

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Algumas observações a respeito da nota do Itamaraty sobre Sadam

O Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, desde que o Barão do Rio Branco estabeleceu os princípios de nossa diplomacia, tem desfrutado da simpatia e apoio do povo brasileiro, fenômeno bastante raro no mundo - onde, em geral, os assuntos diplomáticos, e menos ainda os diplomatas, não são especialmente populares.

Naturalmente, é devido ao seu compromisso com a defesa de nossa soberania e independência, e ao respeito com a soberania e independência dos outros, que o Itamaraty, há décadas, tem merecido um alto conceito por parte dos brasileiros.

Portanto, ninguém estranhou que após o anúncio de que o Presidente do Iraque, Sadam Hussein, seria supliciado, o Itamaraty lançasse uma nota de protesto, em nome do povo brasileiro.

Nela, muito justamente, nossa chancelaria observa que “a deposição de Saddam Hussein, em 2003, não decorreu de ação autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, único órgão multilateral com legitimidade para determinar o uso da força no plano internacional”, que “a razão então alegada para a invasão do Iraque – a existência de armas de destruição em massa – nunca foi comprovada” e que “qualquer solução (....) deve emanar do diálogo e do entendimento entre as forças políticas do país, bem como buscar a preservação da soberania e da integridade territorial iraquianas”.

INVASÃO

Tudo muito justo e muito bem dito: a invasão foi ilegítima por qualquer critério, tanto moral quanto legal; o motivo alegado era uma mentira escandalosa; e não há outra maneira de resolver o conflito, senão com a retirada das tropas americanas, isto é, com a retomada, pelos iraquianos, da sua soberania.

O que não é justo, nem bem dito, e não corresponde às tradições do Itamaraty, é repetir o que propalaram aqueles que mentiram e passaram por cima de qualquer lei, de qualquer moral e de qualquer norma civilizada.

Infelizmente – e trata-se de um deslize, certamente -, antes de dizer essas verdades que transcrevemos, o Itamaraty declara que “o regime imposto pelo ex-Presidente Saddam Hussein foi, sem dúvida, marcado por seguidos atos de violência contra a população de seu país e por brutal cerceamento das liberdades.

O assassinato de 148 pessoas na cidade de Dujail, em 1982, objeto do julgamento em questão, é um dos exemplos”.

O funcionário que redigiu a nota, sem dúvida, poderia consultar os próprios arquivos do Itamaraty, que sempre manteve as mais amistosas relações com o Iraque e Sadam, até que Collor tentou perfilar o país com os atuais invasores.

E todos sabem que o Itamaraty não costuma ter relações amistosas com assassinos nem com quem comete “atos de violência contra a população”.

Peguemos o caso citado pela nota:

Em 1982 o Iraque, atacado em setembro de 1981, estava em guerra com o Irã.
Este último país sustentava, dentro do Iraque, uma organização terrorista, a “Dawa”, composta de mercenários e espiões iranianos, que tentou assassinar o chefe de Estado, Sadam Hussein.

A investigação e o processo, mesmo o Iraque estando em guerra, duraram dois anos.
Julgados pela Justiça iraquiana, os culpados foram condenados - alguns deles à morte - por crime de traição à pátria.

Exatamente como em qualquer país do mundo que estivesse em guerra, e no qual se tentasse matar o Presidente e Chefe das Forças Armadas.

DUJAIL

Quanto ao número de 148 pessoas, propalado pelos invasores e seus colaboradores, não se tem certeza alguma dele.

Pelo menos 24 desses supostos 148 mortos foram declarados vivos e com boa saúde por testemunhas – e os acusadores de Sadam não fizeram qualquer esforço para demonstrar que elas não estavam dizendo a verdade.

Ao contrário: decidiram proibir que Sadam e seus advogados apresentassem as atas do processo judicial no qual os membros da “Dawa” foram condenados pelo atentado de 1982, apesar de que Sadam estava sendo acusado exatamente pelas condenações à morte daquele processo.

E nomearam como “juiz” de Sadam um dos membros da “Dawa” que participaram do atentado, e que foi por isso condenado. Do jeito como esse se comportou, não é difícil deduzir o que é essa “Dawa”, que hoje se intitula “partido”, e que tem entre seus asseclas o atual fantoche-mor dos invasores, Nouri Al-Malik.

Quem chama de “assassinato” o que ocorreu após o atentado contra Sadam em 1982, são esses assassinos, cujo senso judicial e estatura moral não ultrapassaram ainda os dos micróbios.

O nosso Itamaraty, evidentemente, não pode coonestar esses marginais de última categoria.

Quanto aos outros “seguidos atos de violência contra a população de seu país” e o “brutal cerceamento das liberdades”, eles aconteceram, sem dúvida, nas páginas do “The New York Times” e assemelhados, que repetem o Departamento de Estado – ou seja, o Ministério de Relações Exteriores dos EUA – e, sem disfarces, a CIA. A maior parte da difamação contra Sadam saiu do livro “Saddam and the Crisis in the Gulf”, encomendado e editado pela CIA em 1990, e escrito por Judith Miller - a mesma que, 13 anos depois, garantiu, no “The New York Times”, que as armas iraquianas de destruição em massa eram de arromba, e depois se envolveu na vendetta de Bush contra o diplomata Joseph Wilson, por este haver desmontado, às vésperas da invasão, a história da importação, por Sadam, de urânio do Níger.

O livro de Miller fazia parte da propaganda de Bush-pai para a primeira agressão ao Iraque. Somente nessa época, apareceram as histórias sobre “seguidos atos de violência contra a população” e “brutal cerceamento das liberdades”.

O melhor exemplo é a história das mortes por gás em Halabja, em 1988.

No dia 4 de maio de 1990, antes da publicação do livro de Miller e logo depois que o Irã anunciou que as mortes foram causadas por cianureto, o “Washington Post”, resumindo um relatório do “US Army War College”, instituição de estudos estratégicos do exército dos EUA, publicou:

“Sabemos que o Iraque não usa cianureto.
Temos um conhecimento muito bom dos agentes químicos que os iraquianos produzem e usam, e sabemos o que faz cada um”.

Mais recentemente, Stephen Pelletiere, analista da CIA para o Iraque, afirmou no “The New York Times” que a CIA sabia que as mortes haviam sido causadas pelo exército iraniano, pois os iraquianos não tinham cianureto em seus arsenais, ao contrário do Irã.

Ninguém, no governo americano, nem na época nem atualmente, desmentiu o “Washington Post”, ou o “US Army War College”, ou a CIA – e Pelletiere reafirmou, em recente livro, o que havia dito sobre as mortes em Halabja.

Realmente, seria muito surpreendente se aqueles que mentiram sobre as armas de destruição em massa para - eles, sim - despejarem armas de destruição em massa sobre outro país, estivessem falando a verdade sobre o líder desse país.

BLAIR E BUSH

Por exemplo, o famoso “poodle” de Bush, Tony Blair, disse em 14 de dezembro de 2003, logo depois do seqüestro de Sadam, que, no Iraque, “os restos de 400 mil seres humanos já foram encontrados nas valas”.

Tal afirmação foi repetida por todos os estafetas do imperialismo, desses que escrevem em jornais ou fazem caras e bocas na televisão.

Depois, como cita Jean Bricmont em seu livro “Impérialisme huma-nitaire. Droits de l’homme, droit d’ingérence, droit du plus fort?”, o “The Observer” conseguiu do próprio gabinete do primeiro-ministro inglês que os 400 mil eram na verdade 5 mil – num país que esteve em guerra durante oito anos com o Irã e durante 12 com os EUA.

E, qualquer dia desses, talvez alguém descubra que eles foram achados em algum cemitério de Bagdá...

Quanto ao “brutal cerceamento das liberdades”, resta saber de quem.

Pois é um testemunho unânime, inclusive de milhares de brasileiros que trabalharam lá, que nunca algum país árabe desfrutou de tanta liberdade quanto o Iraque.

Não há um único testemunho, excetuando os mercenários do “Dawa” e outros bandidos, desse “brutal cerceamento”.

E, os nossos diplomatas sem dúvida concordarão, hoje está muito claro quem comete atos de violência contra a população iraquiana, assim como submete o país a um brutal cerceamento das liberdades.

Não é Sadam, que preferiu doar a sua vida, a ser um serviçal dessa ignomínia.

CARLOS LOPES

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