segunda-feira, 25 de junho de 2007

O confidente de Saddam

Saddam é "amável" e não tinha sósia oficial, diz médico
AFP

Saddam Hussein não tinha sósia oficial, ao contrário do que se pensava, afirma Alaa Bachir, ex-médico particular do ditador iraquiano deposto, durante uma entrevista concedida à agência de notícias AFP por ocasião do lançamento de seu livro, "O confidente de Saddam", escrito com um jornalista norueguês.
"Ninguém nunca me pediu para fazer qualquer cirurgia em quem quer que seja, com o objetivo de transformar esta pessoa em sósia de Saddam, apesar de eu ser certamente o mais qualificado para tal tarefa.
Também não encontrei alguém que tenha se submetido a tal operação", garante Bachir. Membro da equipe médica de Saddam Hussein durante 20 anos, o especialista em cirurgia estética desmente assim a tese comum entre os países ocidentais, segundo a qual o ex-ditador iraquiano tinha vários sósias para confundir seus inimigos.
No ano passado, quando as tropas americanas se aproximavam de Bagdá, Sadam Hussein se juntou a uma multidão na capital, e alguns acreditaram que se tratava de um sósia.
Bachir, 64 anos, afirma nunca ter praticado qualquer cirurgia estética no seu mais famoso paciente, exceto depois de um acidente de carro, em fevereiro de 1991, durante a guerra no Golfo.
Saddam Hussein contratou Bachir em 1983, por gostar de seus quadros.
O médico, que também é um artista reconhecido, fica prudente quando evoca seu ex-paciente. "Normalmente, ele é muito gentil, amável e bem-educado. No entanto, é muito severo com seus opositores", revela Bachir.
"Mudar de regime no Iraque era uma medida justa, mas a forma como a mudança foi realizada foi injusta", considera o médico, sem querer levar adiante o assunto.
Apesar de pertencer a um círculo de privilegiados, o cirurgião não foi poupado pela violência do regime.
No início dos anos 80, três de seus familiares, membros de um partido religioso, foram muito provavelmente executados.
"Eles foram presos e nunca mais voltaram", explicou Bachir.
Recentemente, um primo do médico, ex-filiado do Baath que deixou o partido, foi detido e condenado à morte, mas a sentença não foi aplicada em função da mudança de regime.
Indagado sobre o motivo pelo qual ele, próximo a Saddam Hussein, não intercedeu para salvar seu primo, o médico se limita a afirmar que "a política era assim na época".
Além disso, um dos ex-estagiários de Bachir teve de trabalhar em Abu Ghraib, a sinistra prisão perto de Bagdá que está sob os holofotes devido às denúncias de sevícias contra prisioneiros iraquianos por soldados americanos.
Saddam Hussein estava sabendo de tudo o que acontecia neste imenso complexo penitenciário? "A crueldade dos americanos é pior que a de Saddam. Talvez Saddam não soubesse de tudo, assim como o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, alegam hoje não saber de nada", considera Bachir.
"Um dos maiores erros de Saddam foi escolher assessores incompetentes e preocupados somente com seus interesses pessoais", afirma o médico.
Alaa Bachir, no livro escrito com um jornalista norueguês, lançado nesta quarta-feira na Noruega, descreve principalmente como Udai, o filho mais velho de Saddam, matou um dia um criado com uma bengala de marfim porque era barulhento, ou como atirou sem qualquer motivo em um guarda-costas.
"Sem motivo algum. Acho que ele queria apenas brincar com sua pistola. Acredito que era completamente louco", tenta explicar Bachir.
"O confidente de Saddam" será editado em cerca de quinze países.

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