quinta-feira, 14 de junho de 2007

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO NO IRAQUE

Bagdá: Três mil seqüestrados em campo de concentração

Depoimentos de testemunhas, relatórios da Cruz Vermelha e da Anistia Internacional, denunciam “grosseira violação dos direitos humanos” no campo de concentração de Camp Cropper

Autêntico campo de concentração nazista, Camp Cropper, instalado pelos EUA nos arredores do aeroporto de Bagdá, mantém seqüestradas mais de 3 mil pessoas, - muitas delas altos dirigentes iraquianos, como Tarek Aziz-, que são submetidas a maus tratos, tortura e inclusive assassinato, segundo relatos dos poucos presos que foram libertados e denúncias da Anistia Internacional e de funcionários da Cruz Vermelha Internacional.

Sob temperaturas que alcançam os 50 graus centígrados ao meio dia, cada prisioneiro só recebe três litros por dia, para beber e lavar-se.
É proibido lavar a roupa.
Diante das infestações corporais, só conta com uma pequena taça de pó anti-pulgas.
Ao mínimo descumprimento das regras draconianas, ou mera vontade do guarda, o prisioneiro é obrigado a manter-se em posições penosas e assim permanecer por largos períodos – como já visto em Guantánamo.
Se o preso protestar, tem a cabeça enfiada à força num capuz.
Em desrespeito à condição de muçulmano da maior parte dos prisioneiros, a comida é freqüentemente carne de porco.
Um insulto aos preceitos da fé islâmica.
Mas, ou come, ou definha mais rapidamente.

TORTURA

“Se somar-se a privação do sono e o abuso físico se tem uma idéia das condições extremamente degradantes, análogas à tortura, uma grosseira violação dos direitos humanos”, afirmou Curt Goering, vice-diretor da Anistia Internacional, em Londres.
Mas não é só tortura: também assassinatos.
Ele confirmou que a Anistia obteve “relatos críveis” a respeito de presos mortos sob custódia, “sobretudo de mortos de golpes por arma de fogo de membros das forças da coalizão”, isto é, dos invasores.
Uma situação tal que observadores da Cruz Vermelha – cuja norma é nada divulgar sobre as condições do que inspeciona – se sentiram na obrigação de deixar isso de lado e fazer passar informes.

ASSASSINATOS

Em dezembro último, um desses assassinatos na tortura veio à tona, com o próprio comando ianque tendo de anunciar que fora morto em “interrogatório” o general iraquiano Abed Hamid Mowhush, ex-comandante da Força Aérea, seqüestrado em outubro em Al Qaim, junto à fronteira com a Síria, acusado de dirigir atividades da Resistência.
Cinicamente, relatava que o general iraquiano, que estaria sendo interrogado, espantem-se, por um reles soldado, passou mal, “perdeu a consciência” e apesar do empenho do militar, que chamou as “autoridades médicas”, nada foi possível fazer.
Como é notório, um soldado não sabe o que perguntar a um general, e interrogatórios desse nível são conduzidos apor estripadores da CIA.
Há outros relatos, menos cínicos, da Gestapo de Bush devolvendo aos familiares o corpo do filho sangrado e morto na tortura, bem como de dirigentes do Baas assassinados no interrogatório.

CERCAS DE ESPINHOS

Eis como registrou o articulista e escritor norte-americano Gordon Thomas a realidade do campo de concentração ianque em Bagdá.
“Cada dia novos prisioneiros são metidos na área quente e poeirenta. Cercados por uma vala de mais de 3 metros, feita de alambrado de espinho, os prisioneiros vivem em tendas que oferecem pouca proteção ao sol ardente, oitenta em cada tenda, em finas esteiras”.
A higiene pessoal é feita desta indizível forma:
cada um recebe uma pá para cavar uma latrina.
Vários são demasiado velhos ou débeis para cavar até a profundidade estabelecida de 3 pés, um pouco menos de um metro.
Outros descobrem ter cavado buracos já existentes.
Um lugar de peste.
Nenhum dos presos foi comunicado de qual é a acusação que existe; não há processo legal, nem advogado, nem visita da família.
A Convenção de Genebra é ignorada sob o pretexto de que falta um tribunal militar ianque decidir quem é “preso civil” e quem é preso de guerra.

DIRIGENTES SEQÜESTRADOS

Entre os presos estão dirigentes iraquianos seqüestrados desde a invasão.
Entre esses, Tarek Aziz, vice-primeiro-ministro; Saadiun Hammadi, presidente do parlamento; o filho do vice do Conselho da Revolução, Ezzar Ibrahim; e a cientista Huda Ammash, conhecida por suas denúncias do uso pelos ianques de urânio depletado no país e a qual os EUA acusam de chefiar suposto “programa de armas químicas e biológicas” do qual, depois de escarafunchar o Iraque, nada acharam, nem a menor peça.

Huda dorme em uma tenda com outras mulheres do Partido Baas.
Muitas desenvolveram feias chagas, relatou uma observadora da Cruz Vermelha que as visitou.
Assim como os homens, não podem lavar suas roupas.
Huda, que sofreu uma mastectomia nos anos 80 e estava fazendo tratamento suplementar do seu câncer, antes de ser seqüestrada, acha-se sem tratamento.
“Como podem ser tão cruéis?”, denunciou sua idosa mãe, Kasmah Ammash.

TAREK AZIZ

Adnan Jassim, um dos poucos presos libertados, contou o que ocorre no campo de concentração.
“Tarek Aziz envelheceu muito nos últimos meses no campo.
Apenas se arrasta.
Talvez porque tem tido de cavar sua própria privada.
Todos estão proibidos de ajudá-lo.
Os guardas querem que se arraste como um animal.
Está com o cabelo comprido e sujo.
Não tem nenhuma alimentação especial, sempre a mesma comida terrível, que pouco come”.

A história de Jassim é bem representativa dos desmandos do invasor.
Segundo um responsável da Cruz Vermelha, foi detido por excesso de velocidade.
“Os soldados dos EUA dispararam contra o meu carro, me colocaram em um caminhão e me levaram a um campo militar. Na entrada puseram um distintivo na minha camisa com os dizeres “assassino presumido. E eu nunca usei uma arma, imagine-se como posso matar alguém”, relatou Jassim.

ESCÂNDALO

A família de Tarek Aziz, que se asilou na Jordânia, nomeou como advogado Abdul Haq Al Anos, que quer apresentar um pedido de hábeas corpus, contra o ministro da Defesa inglês, Geoff Hoon, sustentando que a detenção do seu assistido contraria a Convenção de Genebra e a Ata Universal dos Direitos Humanos.
“Estive uma semana em Bagdá, porém não permitiram que visse meu cliente. Sei por outros, que foram libertados, as condições em que está detido.
O que está sucedendo é um escândalo”.

ANTONIO PIMENTA

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