Noticiário - Seleção Diária de Notícias Nacionais
27/Junho/2007
Jornal do Brasil
Jornal do Brasil
Assunto: Internacional
Título: 1b-Antes era melhor
Data: 26/12/2004
Crédito: Haifa Zangana
Antes era melhor
Além do Fato / As mulheres e a eleição no Iraque
Haifa Zangana
Ex-novelista, foi prisioneira no regime de Saddam Hussein
O departamento de Estado americano lançou um programa de US$ 10 milhões chamado “Iniciativa à democracia e às mulheres iraquianas”, cujo objetivo é treinar representantes políticas do sexo feminino na prática democrática, antes das eleições de 30 de janeiro de 2005.
– Vamos dar às mulheres iraquianas as ferramentas, as informações e a experiência que elas precisam para concorrer como candidatas e pressionar por tratamento mais justo – declarou Paula Dobriansky, subsecretária de Estado para Temas Globais.
O fato de que os recursos irão, na maior parte, para organizações parceiras do governo dos Estados Unidos, como o Fórum Independente de Mulheres, fundada por Lynn Cheney, mulher do vice-presidente Dick Cheney, claro, não foi mencionado.
De todos os erros da Casa Branca no Iraque, o mais grave é não conseguir entender o povo local, em especial as mulheres. O principal preconceito é perceber as iraquianas como mulheres caladas, como vítimas sem poder em uma sociedade controlada por homens, como se estivessem com uma necessidade urgente de “libertação” de um regime opressor.
Essa imagem se encaixa convenientemente na representação do povo iraquiano como vítimas passivas que deveriam e poderiam dar boas-vindas à ocupação americana.
A realidade é bem diferente.
As mulheres iraquianas estiveram envolvidas na vida pública mesmo durante o Império Otomano.
Em 1899, foram estabelecidas as primeiras escolas para meninas.
Em 1924, a primeira organização somente de mulheres.
Em 1937, havia quatro publicações voltadas para as mulheres em Bagdá.
As iraquianas estiveram envolvidas, inclusive nos combates, na revolução de 1920, contra a ocupação britânica.
Nos anos 1950, os partidos políticos criaram comitês de mulheres.
Todos esses casos refletem o mesmo princípio: ao lutar ao lado dos homens, as mulheres estão, ao mesmo tempo, liberando a si mesmas.
Lema comprovado quando, em 1958, na derrubada do regime monárquico herdado dos britânicos, as iraquianas conseguiram em dois anos o que a antiga colônia tentou por 30 anos na região: igualdade jurídica.
“Raramente, no mundo árabe, as mulheres têm tanto poder como têm no Iraque. No país, homens e mulheres têm de receber o mesmo pagamento pelo mesmo trabalho. Os ganhos da esposa são reconhecidos como independentes dos recursos do marido. Em 1974, foi estabelecida a educação gratuita para todos e, em 1979, obrigatória para meninos e meninas até 12 anos”, diz um relatório da Unicef, de 1993.
No início dos anos 1990, o Iraque tinha um dos mais altos índices de alfabetização do mundo árabe.
Havia mais mulheres profissionais em altas posições no governo e na iniciativa privada do que em qualquer outra nação do Oriente Médio, talvez com exceção de Israel.
A conclusão trágica é a de que as mulheres viviam bem no regime opressor de Saddam Hussein.
Ocupavam altas posições políticas e não faziam nada para protestar às injustiças infringidas contra outras mulheres que se opunham à ditadura.
O mesmo está ocorrendo agora no “novo e democrático Iraque”.
Após a “libertação”, George Bush e Tony Blair contaram ao mundo que o avanço das mulheres no Iraque era um dos pontos principais da visão que eles tinham do futuro do país.
Na Casa Branca, iraquianas escolhidas a dedo recitavam desesperadamente homilias para justificar a invasão.
Em junho, a soberania nominal foi entregue a um governo interino apontado pelos Estados Unidos, que incluía seis mulheres no gabinete do Ministério.
Elas não foram eleitas pelo povo.
Sob o regime de Ayad Allawi, as forças “multinacionais” continuam imunes à Justiça, raramente responsabilizadas por crimes cometidos contra iraquianos.
As diferenças entre as mulheres que são membros do governo interino e a maioria das iraquianas aumentam a cada dia.
Enquanto o gabinete e as embaixadas americanas e britânicas seguem abrigadas dentro da fortificada Zona Verde, aos iraquianos é recusado o direito básico de andar com segurança pelas próprias ruas em que moram.
Do lado de fora, o que pode ser visto são tanques americanos onde se lê a inscrição: “Se você ultrapassar o comboio, será morto”.
Na situação atual do país, a falta de segurança e o medo de seqüestros faz das mulheres iraquianas prisioneiras nas suas próprias casas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário