sábado, 7 de julho de 2007

YANKEES CONTRA O IMPÉRIO

Nos EUA cresce o movimento contra as ações do governo Bush e em defesa de um mundo mais equilibrado e justo.
No 3º FSM, a delegação norte-americana foi a segunda maior em número de delegados
por Anselmo Massad

O governo e as grandes corporações dos Estados Unidos são o principal alvo das críticas do Fórum desde sua primeira edição.
O país é a matriz, a sede do império.
Os senhores do universo que ignoram a maioria da população mundial por seus interesses.
Ou como disse o economista Samir Amin em sua conferência neste ano, o Estado bandido número 1 do mundo.
Segundo ele, comparável à Alemanha nazista.

Em novembro de 1999, quando um evento como o Fórum Social Mundial mal passava pelos sonhos do mais otimista dos críticos do modelo único, ocorreu em Seattle (oeste dos EUA) uma das primeiras e mais importantes manifestações antiglobalização neoliberal.
À base de protestos, gente de todo o mundo conseguiu suspender rodada de negociações da OMC.
Meses depois, em abril do ano seguinte, 15 mil pessoas fizeram em Washington outro ato num encontro do FMI.

“Os EUA também são nosso país, não só da turma do Bush”, lembra Rebecca Hanscom, da central sindical Jobs with Justice, de Chicago, uma entre os 1.158 participantes americanos do terceiro FSM.
Os norte-americanos formaram a segunda maior delegação do evento, perdendo apenas para a do Brasil.
“Os americanos que vieram nos anos anteriores – assim como faremos agora – promoveram diversos eventos para relatar o que haviam visto e ouvido. Assim, as entidades se esforçaram para levantar recursos e comparecer. É muito encorajador saber que temos a segunda maior delegação num evento como este”, empolga-se Dennis Brutus, da rede 50 Years is Enough.

Em alguns dos encontros envolvendo americanos, começou-se a discutir a hipótese de um Fórum regional da América do Norte, para ajudar a reforçar a luta.
“Organizar uma oposição de fato ao governo ficou ainda mais difícil depois do 11 de setembro”, constata Lee Sustar, da central sindical Socialist Workers.

Apesar de os movimentos sociais serem bastante ativos por lá, não conseguem criar um partido capaz de disputar nacionalmente as eleições.
O que mais se aproxima disso são os democratas, que demoraram a aparecer na discussão sobre o ataque ao Iraque.
Em manifestação recente contra a guerra, lia-se faixa levada por uma ativista: “Onde estão os malditos democratas?”

Kevin Danaher, diretor da ONG Global Exchange, aponta que os democratas estão tão dominados pelo dinheiro das grandes corporações quanto os republicanos.
“Alguns de nós acreditam que é possível recuperá-los das mãos dessas empresas, mas seria algo extremamente difícil”, aponta.
“É impossível prever quando haverá nos EUA uma alternativa partidária à esquerda. Localmente, temos o Partido Verde, que está longe de ser nacional.
“O único ponto em comum que temos é parar a guerra”,
anima-se Lee Sustar.
“Ninguém poderia prever, há seis meses, que teríamos milhões de pessoas nas ruas de várias cidades americanas protestando contra a guerra como vemos hoje. É algo sem paralelo, que nos dá inspiração para levar o movimento adiante”, aposta.

Mas se o movimento é tão amplo, por que 57% dos americanos – segundo pesquisa Gallup/CNN do começo de fevereiro – apóiam a guerra?
“A população é muito mal-informada, 80% das pessoas tiram informações apenas da TV, que passa o dia todo listando motivos para o ataque ao Iraque”, responde Rania Masri, da Iraq Action Coalition. “Mas para 72% a guerra não está bem justificada. Se apenas com as informações da TV pensam assim, imagine se nos ouvissem?”, calcula.

Rania narra discussão que teve num talk show.
A apresentadora perguntava se não estaríamos ajudando as mulheres do Iraque tirando Saddam Hussein do poder.
“Respondi: ‘não entendo como se ajuda alguém ao bombardeá-lo!’
Quando comecei a falar da questão do petróleo, ela me chamou de antipatriótica.
Agora, se já é difícil fazer os apresentadores de TV entenderem que a guerra tem a ver com o petróleo, imagine o que é mostrar ao povo que ela vai muito além dele”, lamenta.

Danaher, da Global Exchange, acredita que uma forma de mudar esse quadro é com muita solidariedade internacional.
“Quando [Salvador] Allende foi assassinado no Chile, quando o Timor Leste era massacrado, quando a África do Sul vivia o apartheid, nós, da esquerda americana, atuamos contra os interesses do governo e das grandes empresas, arriscando nossas carreiras e nosso trabalho para tentar ajudar. Agora, ajudem-nos a tirar esse governo que está acabando com o mundo e com o país”, conclama.
E acrescenta: “queremos que os EUA deixem de ser um império e passem a ser uma nação”.

Ação Prática

A organização feminista Code Pink (literalmente, Código Cor-de-Rosa) vem promovendo algumas ações diretas.
O nome é uma referência aos códigos de alerta do Pentágono representados por cores.
“Queremos alertar as pessoas para o perigo que o cara na Casa Branca representa”, ironiza Medea Benjamin, uma das fundadoras da Code Pink.

A primeira das ações foi após os ataques dos EUA sobre o Afeganistão que atingiram gravemente a civis.
“Convidamos familiares das vítimas do World Trade Center para visitar o Afeganistão. Queríamos perguntar o que nos distingue do terrorismo e pedir que o governo norte-americano assuma a responsabilidade e passe a ajudar as pessoas em lugar de matá-las”, aponta Medea.
Ela conta que essas campanhas são tachadas de antipatrióticas.
“Chegamos a sofrer ameaças de morte e de bombas, mas muitos americanos nos apoiavam”, relata.

Na luta contra a guerra do Iraque, não cruzaram os braços.
Além de engrossar as marchas contra a guerra, primeiro, montaram uma vigília em frente à Casa Branca, que deve durar até 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Um grupo de doze mulheres também embarcou para o Iraque, em 30 de janeiro, para se encontrarem com grupos de mulheres de outros países.
Elas planejam organizar novas delegações com o mesmo destino.
“Vamos arriscar nossas vidas para não deixar o governo fazer o que está planejando”, aponta.

Contra o ataque ao Iraque

www.globalexchange.org/campaigns/iraq/Dados sobre a campanha contra a guerra.
www.codepink4peace.orgPágina da Code Pink, com informações sobre a vigília na Casa Branca e a delegação ao Iraque.
www.iraqaction.org Iraq Action Coalition, rede de informações sobre a situação do povo do Iraque mantido desde a primeira Guerra do Golfo.

http://revistaforum.uol.com.br/revista/9/poderintern.htm

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