sábado, 8 de dezembro de 2007

Teatro de Paz

Por que Annapolis é um teatro?
A mídia ocidental agiu em massa ao comemorar os resultados da
recente “Conferência de Paz de Annapolis”, nos Estados Unidos.
A
iniciativa do presidente estadunidense, que trouxe 49 nações ao
país, incluindo a Arábia Saudita e a Síria, além de organizações
internacionais, foi relatada como “um primeiro passo de sucesso”.
Entretanto, nada foi comentado sobre como o povo palestino e
israelense viram a conferência, apesar de serem eles quem
realmente decidirão o futuro da Questão Palestina.
Provavelmente, a mídia ocidental ignorou as principais peças do
jogo pelo fato de a Conferência de Annapolis ter sido recebida, por
ambos os lados, com incerteza e descrença.
De fato, os políticos
envolvidos, Ehud Olmert (77% da população está insatisfeita com
sua condução dos assuntos do país), Mahmoud Abbas (que teve
seu partido unanimemente derrotado pelo Hamas nas últimas
eleições palestinas) e George W. Bush (que tem uma lista
incalculável de mentiras, crimes e fracassos diplomáticos),
perderam força dentro de suas nações, e estão sem credibilidade.
De qualquer maneira, por eles foi prometido que, até o fim de 2008,
“a paz será alcançada” na Palestina.
Todo o espetáculo foi muito
bem feito, mas não se mostrou
realista.
Abbas nem sequer tem
o controle da Palestina no
momento, isolado na
Cisjordânia e ausente na Faixa
de Gaza
, controlada pelo
Hamas.
Olmert, que carrega o peso de sérias acusações de
corrupção e da humilhante derrota para o Hizbollah no ano
passado, depende de uma coalizão de políticos israelenses que já
ameaçaram, mesmo sem o início de algo, que abandonarão o plano
caso ele faça concessões de assuntos como o status da cidade de
Jerusalém ou o direito de retorno dos palestinos.
Além das questões
internas da Palestina, a recusa do governante saudita Saud al-
Faisal
, ministro do Exterior, em cumprimentar Olmert foi uma
manifestação clara do longo caminho a ser percorrido.
O jornal israelense Maariv classificou Annapolis como “fazendo paz
para as câmeras”.
“Cerimônias de paz são feitas quando a paz é
alcançada”,
criticou o diário.
Uma pesquisa de outro jornal
israelense, o Haaretz, mostrou que a maioria dos israelenses
considera a conferência, de antemão, “um fracasso”.
A posição do
povo israelense é clara, já que Annapolis pode destruir o sonho de
colonos sionistas caso Olmert realmente pare de expandir os
assentamentos ilegais sobre as terras privadas palestinas – uma
decisão vital para se alcançar a paz.
Na Palestina, uma pesquisa na
Cisjordânia (controlada pelo próprio Abbas) mostrou que 62% dos
palestinos acreditam que “nada mudará” após Annapolis.
Em Gaza,
protestos anti-Abbas foram marcados pela revolta contra o
esquecimento da região na conferência.
“As pessoas que se
encontraram em Annapolis não representam o povo palestino, mas
sim eles mesmos”,
afirmou um dos líderes do protesto.
A “Conferência de Paz de Annapolis” começou mal.
Assim como
nas demais iniciativas no passado, fatores indispensáveis foram
deixados de lado pelos mentores do plano.
Se os líderes da
Palestina e de Israel (Abbas e Olmert) não têm credibilidade dentro
de seus países, e Bush, intermediário da questão, é malquisto por
toda a comunidade internacional, como o plano poderia ter
sucesso?
De fato, tudo não passou de um teatro, em que os atores
no palco foram aplaudidos, mas aqueles nos bastidores foram
ignorados.

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