Golpistas apelam ao assassínio
"Ele tem de ser morto"
A elite venezuelana já diz publicamente "Ele tem de ser morto", referindo-se ao Presidente Hugo Chavez.
José Antonio Gil faz parte da elite da Venezuela. Ele movimenta-se nos círculos do dinheiro, do poder e da influência. Foi educado em escolas top dos EUA. Encabeça uma das mais prestigiosas empresas de inquéritos do país. E ele só vê uma saída para a crise política envolvendo o Presidente Hugo Chavez.
"Ele tem de ser morto", afirmou, usando o dedo para riscar a mesa do seu gabinete, bem acima das ruas sujas de Caracas.
"Ele tem ser morto".
Cerca de três meses depois de Chavez ter sido afastado do gabinete, e de retornar dois dias depois no bojo de um levantamento de massas de gente pobre, a sociedade venezuelana permanece profundamente dividida.
As tensões continuam altas e o país parece tão polarizado como antes dos acontecimentos de 11 de Abril.
Os esforços de reconciliação falharam. Os líderes da oposição desejam abertamente a morte de Chavez.
Um dos principais historiadores do país escreveu recentemente um artigo de primeira página em cujo título se podia ler:
"É correcto matar um dirigente que não está a cumprir as leis".
Chavez, cuja retórica inflamada e comportamento errático dele fez um dos mais controversos lideres da história do país, deu alguns passos no sentido de moderar o tom, mas eles não foram suficientes para apaziguar um vasto conjunto de sectores que estão contra ele, desde líderes empresariais a responsáveis sindicais e membros dos media.
Ele não consegue ultrapassar a amargura.
Em uma semana de entrevistas na Venezuela os seus opositores utilizaram os seguintes termos para descrever Chavez: Hitler, assassino, psicopata, terrorista, messiânico, estalinistas, comunista, fascista, autoritário, rústico e vários outros epítetos inadequados para leitura ao pequeno almoço.
A segurança tornou-se uma preocupação central para o Presidente.
Outrora um populista que outrora gostava de banhos de multidão, ele agora quase eliminou as aparições públicas.
No fim do mês passado ele instalou baterias de mísseis terra-ar em torno do palácio presidencial depois de relatórios da inteligência terem-no advertido de ataques aéreos.
Um grupo auto-intitulado Forças Unidas de Auto Defesa da Venezuela apregoou ter 2200 tropas paramilitares prontas para matar Chavez.
Segundo algumas estimativas, ele afastou ou rebaixou mais de 240 oficiais das forças armadas que acreditava terem estado envolvidos na tentativa de golpe.
A acção aprofundou as divergências entre aqueles militares que já se opunham a Chavez.
Enquanto isso, a economia continua a piorar.
A moeda, o bolívar, afundou quase 45 por cento em relação ao dólar desde o ano passado.
O desemprego e a inflação continuam a aumentar.
A Venezuela é um país que segura a respiração, à espera de mais violência.
Rumores de um segundo golpe enchem as redacções e as emissões de rádio e TV do país, embora outros descartem tais conversas como lavagem cerebral.
Mais recentemente, um crescente número de observadores chega a acreditar que uma tentativa de assassinato contra Chavez é quase uma certeza.
"Nunca vi uma sociedade mais dividida ou polarizada do que a Venezuela", disse José Miguel Vivanco, o responsável pelo continente da Human Rights Watch, que passou mais de duas décadas a observar as guerras de guerrilhas e ditaduras da América Latina.
O golpe começou em 11 de Abril depois de os líderes da oposição organizarem uma marcha em direcção a Miraflores, a versão venezuelana da Casa Branca.
Ambos os lados acusam o outro de abrir fogo sobre os que marchavam e os contra-demonstradores que apoiavam Chavez.
Na confusão que se seguiu, 17 pessoas foram mortas e Chavez foi afastado do gabinete.
O líder do golpe, Pedro Carmona, um homem de negócios, anulou a constituição e dissolveu o governo.
Mas dois dias depois, os venezuelanos pobres que constituem o grosso dos apoiantes de Chavez afluíram ao centro da cidade para exigir a sua reinstalação no poder, tal como o fizeram unidades militares leais.
A seguir, os líderes do golpe fugiram e Chavez retornou triunfantemente ao gabinete.
Chavez imediatamente prometeu reconciliar-se com a oposição.
Ele reformou seu gabinete, transferindo ou afastando para outros postos alguns dos ministros mais controversos.
Também substituiu um aliado controverso que estava a administrar a empresa de petróleo estatal.
Chavez também moderou a sua retórica exaltada.
Como antigo pára-quedista, ele cessou de chamar os seus opositores de "fedorentos" e deixou de usar o seu uniforme militar durante as aparições públicas.
Mais recentemente, Chavez admitiu a possibilidade de um referendum acerca da sua liderança logo no próximo ano, apesar de o seu mandato não terminar senão em 2007.
A sua popularidade aumentou após o golpe, crescendo 10 pontos percentuais e chegando aos 43 por cento.
Responsáveis governamentais de topo dizem que Chavez procura sinceramente a cooperação mas é hostilizado por uma oposição intransigente que até agora recusou-se a sentar-se e conversar.
"São preciso dois para o tango", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros Roy Chaderton.
"Estamos a tentar encontrar um meio para negociar, mas é muito difícil".
Ainda assim, como Chavez evidenciou durante uma aparição recente para comemorar uma batalha histórica, ele continua a acreditar na sua "Revolução Bolivariana", um movimento político para mudar de forma drástica a historicamente desigual sociedade da Venezuela.
Mais de 80 por cento da população vive na pobreza.
O movimento mal definido levou à criação de políticas controversas tal como uma lei que permite ao governo tomar terras improdutivas e aumentar o controlo do Estado sobre a produção de petróleo.
Os dirigentes da oposição responderam às aberturas de Chavez considerando-as como cosméticas.
Dizem eles que Chavez continua a interferir com a operação da PDVSA, a empresa estatal de petróleo, e que as mudanças no gabinete foram simplesmente um rearranjo, não uma mudança real.
E alguns que o culpam pelas mortas durante o golpe dizem que não podem negociar com um "assassino".
Um esforço do Congresso para formar uma comissão de verdade e de reconciliação ficou empacado, dividindo mais uma vez o legislativo nacional, onde os membros do Movimento da Quinta República de Chavez possuem uma estreita maioria de três ou quatro votos.
Fora do Congresso, os apoiantes de Chavez acenam com um nó de forca suspenso como advertência àqueles que pensam em mudar de lado.
Mesmo fora, os esforços para reunir o governo e a oposição fracassaram.
Os opositores são favoráveis a um inquérito pela Organização dos Estados Americanos.
Os responsáveis do governo convidaram a Fundação Carter para a Paz a ajudarem na mediação.
"Os problemas da Venezuela tem um primeiro nome e um último nome, e estes são Hugo Chavez", declarou Henry Ramos, chefe do maior partido da oposição, a Acção Democrática.
"A melhor solução para ele é ter um ataque do coração. A mais provável é um golpe".
Os oponentes de Chavez, pelo menos aqueles que não o querem morto, puseram as suas esperanças em dois caminhos.
Primeiro, Chavez tem sido atacado com um enxame de processo judiciais e escândalos legislativos nas últimas semanas, alegando tudo e mais alguma coisa, desde o genocídio até à fraude.
O primeiro processo acusa-o de apossar-se de mais de US$ 1,5 milhão de contribuições secretas para a campanha de um banco espanhol.
Enquanto isso, há um escândalo político crescente acerca da diversão de US$ 2 mil milhões de um fundo de "dias chuvosos" governamental para pagar salários do Estado e pensões.
A oposição também está a reunir assinaturas para uma emenda constitucional que limitaria o mandato presidencial a quatro anos, o que significa que Chavez estaria fora do gabinete no próximo ano. Mas para muitos opositores, tal caminho é demasiado lento, e também incerto.
"Qualquer coisa pode acontecer", disse Hidalgo Valero, um ex-coronel da Guarda Nacional que foi preso recentemente depois de liderar uma parada de antigos oficiais contra Chavez.
"Há fanáticos em ambos os lados, e o único responsável por isto é Chavez".
_________________ [*] do Los Angeles Times, 07-07-02
10/Jul/02
O líder cubano Fidel Castro advertiu hoje que seu colega venezuelano, Hugo Chávez, pode ser assassinado por "ordem do império ou da oligarquia", ...
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