domingo, 19 de agosto de 2007

O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Foto: muro da vergonha "Israel"
Foto: meninas armadas - libano-thumb

ESCOLHER O LADO CERTO DA HISTÓRIA
Zillah Branco*
A conscientização dos povos que leva à participação cada vez maior nas ações sociais obriga-nos a escolher sempre o lado certo da história.
Cada vez que analisamos os fatos políticos, que tomamos posição a favor ou contra uma estratégia de luta, somos obrigados eticamente a aprofundar o conhecimento sobre as raízes do problema e as suas conseqüências.
Não é fácil distinguir a responsabilidade política dos que provocam conflitos e daqueles que se defendem com as armas disponíveis mesmo que sejam bárbaras e desumanas sem o disfarce da tecnologia mais sofisticada.
O que não se pode é condenar como terroristas os que fazem guerrilha e guerra de resistência nacional quando agredidos por forças regulares ditatoriais ou de outro país dominador.
Se na luta popular utilizam os recursos que os transformam em bombas humanas ou se provocam a participação social nas ações, não se tornam “bárbaros” em comparação com os agressores que dispõem de alta tecnologia e exércitos regulares.
O agressor é o responsável pelas conseqüências bárbaras e terroristas da ação que promove.
Bush e seus assessores, mais os governos submissos ao imperialismo, como Israel e Inglaterra, por exemplo, promovem guerras com falsa publicidade de defesa da democracia e dos direitos humanos, invadem territórios alheios e matam civis em nome de uma absurda justiça que disfarça os seus mais mesquinhos interesses de poder econômico e político.
A mídia, alimentada na sua maioria por essas campanhas de falsa publicidade, mostra a luta dos que resistem muitas vezes com os recursos do terrorismo por falta de equipamentos e organização bélicos para fazer frente ao armamento sofisticado do imperialismo, e a imagem que fica é a de que o verdadeiro agressor é a vítima de bárbaros invasores.
Na mídia predomina o efeito da imagem e uma bomba atirada de longe parece mais “humanizada” que a explosão de dinamite que um soldado suicida carrega no seu corpo. O conceito de terrorismo hoje está preso à arma sem sofisticação, quando na verdade a alta tecnologia bélica e os recursos científicos aplicados à estratégia de ataque, têm uma dose de cinismo, de prepotência, de crueldade, de traição, do maior terror.
As populações usadas como escudo pelo invasor são as grandes vítimas e as guerras cirúrgicas praticadas pelo imperialismo, e agora especialmente por Israel, utilizam os serviços de espionagem e a corrupção para despejar mísseis diretamente sobre o carro, a casa, a aldeia onde pensam estar o seu inimigo, sabendo que muitos civis também serão mortos e cidades destruídas.
Esta é uma forma terrorista calculada para matar sem risco, mais grave que os que provocam morte e morrem juntos.
O terrorismo praticado por um Estado não tem qualquer justificação.
Há anos que Israel seqüestra, prende e mata palestinos e libaneses que lutam pelo desenvolvimento dos seus povos. São nove mil prisioneiros nas cadeias de Israel, incluindo mulheres e crianças, que provocaram o seqüestro de três soldados israelenses que serviriam como moeda de troca nas negociações pela paz regional.
A desproporção do número de prisioneiros por si só torna injustificável a agressão de Israel ao Líbano e Gaza.
Sem argumentos válidos os pretextos giram em torno da pretensão de “povo eleito” e “vitimas do holocausto nazista”, como se merecessem privilégios negados aos outros povos.
E, o apoio imperialista dos Estados Unidos interessados no domínio dos territórios árabes por razões econômicas e estratégicas, desmoraliza mais ainda as retensas justificações “histórico culturais” relativas ao anti-semitismo que são usadas para sensibilizar a opinião pública.
As populações daqueles paises sob bombardeio são vítimas inocentes do terror que é a guerra e a opressão, mas as populações de todo o mundo são vítimas dos enganos divulgados pela mídia que instigam preconceitos e ódios para dividir a humanidade mais uma vez como fez o nazismo há 60 anos.
Famílias dividem-se, amizades são desfeitas, em discussões mal conduzidas baseadas em falsas explicações dessa nova guerra que nada mais é que moderna versão do velho plano de domínio sobre os povos do Oriente Médio alimentado pela pressão constante de Israel como ponta de lança do imperialismo.
Muito já se escreveu sobre a velha estratégia expansionista de Israel, como o artigo de Gershon Knispel “As areias que engolem povos” (na revista Caros Amigos), e sobre os interesses imperialistas bem claros nas declarações de Condoleeza Rice quando disse: “Não vejo qualquer interesse na diplomacia se for para voltar ao status quo anterior entre Israel e o Líbano.
Penso que isso seria um erro.
O que nós estamos presenciando, de certa forma, é um começo, são as dores do parto de um novo Oriente Médio, e seja o que for que façamos, devemos estar certos de que avançamos para o novo Oriente Médio e que não voltaremos ao antigo” (publicado no jornal Avante! do PCP, Portugal Agosto/2006).
Não é novidade, pois em 1996 Israel enunciou um documento intitulado “Uma ruptura limpa: uma nova estratégia para a segurança” onde se prevê: a anulação dos acordos de paz de Oslo;
a eliminação de Iasser Arafat;
a anexação de territórios palestinos;
a derrubada de Saddam Husseim para desestabilizar a Síria e o Líbano;
o desmantelamento do Iraque com a criação de um Estado Palestino no seu território;
a utilização de Israel como base complementar do programa norte-americano de guerra das estrelas.
Bush já expressou o seu desejo de controlar as zonas ricas em hidrocarbonetos do Golfo da Guiné ao Mar Cáspio, passando pelo Golfo Pérsico, o que exige uma redefinição de fronteiras como a que está em curso.
Os que vivem em Israel e os que têm afeto por aquele povo, têm dificuldade em compreender a maquiavélica estratégia que vem sendo aplicada por aquele Estado desde 1957 e nas várias agressões aos povos vizinhos, o que provocou o nascimento de movimentos de resistência como o Hamas e o Hezbolá hoje acusados de terrorismo por se defenderem com armas de pedra ou homens bomba.
É preciso alcançar um distanciamento que permita ver o coletivo histórico apesar dos sacrifícios pessoais de quem vive naquele país.
Não está em causa o direito de existir um Estado de Israel, não voltamos ao tempo do anti-semitismo que foi gravado com o holocausto na Segunda Guerra.
Lamentavelmente o Governo de Israel é que tem assumido a posição nazista de ponta de lança do imperialismo contra os povos vizinhos prestando-se a abrir o caminho comandado pelos que ambicionam o controle das bacias de petróleo no Oriente Médio.
Perdeu a guerra contra o Líbano pela segunda vez, mas não desiste de permanecer no território que devastou cruelmente.
A ONU tem sido enfraquecida durante toda esta escalada bélica que acompanhou a destruição da União Soviética.
Mas as nações que defendem a democracia manifestaram o seu repúdio às chacinas feitas contra o povo libanês e terão de reerguer a instituição internacional que defende o direito dos povos para que o mundo não mergulhe na barbárie absoluta.
A história do expansionismo imperialista é antiga e tornou-se mais visível depois da queda da União Soviética.
Dialeticamente os antigos aliados da estratégia traçada pelos governos norte-americanos hoje se apercebem de que perdem a própria independência e dignidade nacional na subordinação que mantinham.
Foi expressiva a solidariedade das nações mais ricas com o Líbano e o isolamento dos governos de Israel e dos Estados Unidos como agressores.
Os caminhos da paz estão abertos e serão fortalecidos pela manifestação permanente de todos os povos.
Zillah Branco é cientista social e Conselheira do Cebrapaz.

Nenhum comentário: