segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A vida dos Palestinos do Iraque pós-Saddam

Refugiados palestinos são marginalizados pelos iraquianos
13h38 - 29/11/2003

-->Bagdá, 29 nov (EFE).- Milhares de palestinos foram forçados a deixar o Iraque e outras centenas se encontram em campos de refugiados em condições desumanas na capital, marginalizados pelo restante da população.
O campo de futebol do Clube Haifa, no bairro de Baladiyat, na capital iraquiana, onde vivem desde a queda do regime de Saddam Hussein cerca de 460 palestinos em tendas de lona, inundou com as primeiras chuvas de inverno.
Baladiyat é um bairro situado nos arredores de Bagdá no qual vive o maior agrupamento de palestinos no Iraque -cerca de 30.000 pessoas- e onde agora foi estabelecido um campo de tendas para os palestinos que foram expulsos de suas casas nestes últimos meses.
A maioria deles nasceram no Iraque, e são descendentes dos 5.000 que chegaram neste país em 1948, depois da criação do Estado de Israel, principalmente procedentes de três aldeias próximas à cidade costeira de Haifa: Abu Ghazal, Ichsin e Yaba."Voltamos a 1948, só que naquele ano não tínhamos nem barracas de campanha", aponta Huda Abdel Rahman, que diz ter 58 anos de idade apesar de aparentar muito mais.
Enquanto fala, um homem sai de uma das tendas e começa a urinar a poucos metros diante de todos, no meio do acampamento, agora convertido num lamaçal.
Akram Muhamad a-Risk, um dos palestinos habitantes do acampamento, vivia antes no centro da capital, até que, quatro dias depois da tomada de Bagdá pelas tropas americanas, o proprietário do edifício onde tinha residido durante 37 anos, o expulsou com uma pistola, junto a outras 13 famílias palestinas.
A-Risk, de 45 anos e com seis filhos, afirma que o proprietário era um xiita, supostamente membro de um grupo ressentido com o favorecimento de Saddam Hussein aos palestinos e a sua causa.
Em particular, muitos iraquianos consideravam injusto que Saddam Hussein enviasse dinheiro aos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia durante os anos do bloqueio econômico no Iraque.
A-Risk, que ganhava a vida com enceradeiras, se sente agradecido pelo que o ex-presidente iraquiano fez.
"Saddam nos protegia, era o único líder árabe que apoiou nossa causa. Sob seu regime, nós palestinos gozávamos quase dos mesmos direitos que os cidadãos iraquianos", aponta.
Os palestinos não podiam ter propriedades no Iraque, mas o Estado em muitos casos lhes dava residências ou pagava seu aluguel.
"Agora todos queremos sair daqui. Temos medo, não há segurança na rua, não se sabe o que vai acontecer no país amanhã", diz A-Risk, que ainda sonha em voltar à Palestina.
Outras centenas de palestinos foram expulsos de suas casas depois da queda do regime de Saddam, no último dia 9 de abril.
A maioria não têm nenhuma fonte de renda e vive das rações de comida que recebiam até há pouco das Nações Unidas.
"Agora não podemos trabalhar com os iraquianos, eles nos rejeitam por sermos palestinos, sua opinião sobre nós mudou", diz Faisal Fais Jalid, de 48 anos e antigo empregado de um ministério, onde hoje nem sequer querem reconhecer que ele trabalhou ali durante 16 anos.
Sua mulher morreu pouco antes do início da guerra e agora ele tem que cuidar de seus quatro filhos, que "jogam na cara minha incapacidade de melhorar nossas condições de vida", afirma um desesperado Jalid, que usa sandálias de plástico e tem os pés cheios de barro, apesar do frio.
A seu lado, uma mulher de 60 anos clama: "Isto tem solução? A maioria das crianças está doente. Ninguém vem ajudar, se esqueceram de nós", e pede colaboração médica, em particular psiquiatras.
Segundo o Alto Comissionado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), milhares se viram forçados a deixar o país.
Kris Janowski, porta-voz da Acnur, expressou ontem em Genebra sua preocupação pela situação de cerca de 427 palestinos procedentes do Iraque que se encontram confinados em campos de refugiados na fronteira entre a Jordânia e Iraque desde o mês de abril.
A maioria tem documentos de residência iraquiana, e nenhum deles deseja voltar ao Iraque, país que a Acnur não considera apto para seu retorno, e sim à Cisjordânia, à Faixa de Gaza e Israel, o que, segundo esse organismo, deve ser estudado.

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