sábado, 6 de outubro de 2007

ACONTECEU EM 2003

Inspetores negam existência de armas de destruição em massa e retardam planos norte-americanos de invadir o Iraque
Ao contrário do que os norte-americanos esperavam, o relatório apresentado pelo inspetor-chefe Hans Blix na 6ª feira, dia 14 de fevereiro de 2003, ao Conselho de Segurança da ONU deixou claro que nas 11 semanas em que vasculham o país, já tendo realizado mais de 400 visitas sem aviso prévio e com acesso livre a todas as instalações, os inspetores não encontraram nenhum indício da existência das armas de destruição em massa que os EUA acusam o Iraque de possuir e, ainda, que houve uma mudança de atitude no governo de Bagdá. Para aumentar o tormento do presidente norte-americano George W. Bush, ávido para comandar a invasão do Iraque, dando início a II Guerra do Golfo, o encarregado pelas inspeções de armas nucleares, Mohamed el-Baradei, inspetor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), declarou que até aquela data na tinha encontrado "indícios de atividades nucleares ou correlatas no Iraque". O banho de água fria no assanhamento dos EUA de obterem a autorização formal da ONU para dar início a carnificina no Iraque foi reforçado com a afirmação de Hans Blix duvidando da autenticidade das fotografias mostradas ao Cônselho de Segurança pelo secretário de Estado dos EUA Collin Powell dias antes (ver matéria "Colin Powell não apresenta provas na ONU", na edição de 07 de fevereiro). Dos 15 países com assento no Conselho de Segurança, dez estavam representados por ministros das Relações Exteriores. Fora os próprios EUA e seu "poodle", a Inglaterra, apenas o chanceler da Espanha manifestou apoio à posição norte-americana. França, China e Rússia, que têm poder de veto nas resoluções do Conselho de Segurança, mantiveram a posição anterior de que as inspeções devem continuar.

Bush confronta ONU e diz que não aceita adiamento dos cronogramas da guerra
No domingo, dia 16 de fevereiro de 2003, em entrevista ao programa Meet the Press, da TV NBC, expressando o desdém que seu país dedica a qualquer coisa que contrarie a vontade imperial de George W. Bush, a assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, advertiu a ONU de que os EUA não aceitarão uma decisão que implique em conceder mais tempo ao Iraque. Com arrogância, Condoleezza Rice disse que estava com a impressão de que "o Conselho de Segurança não é capaz de adotar uma decisão".

Poodle de Bush: "Iraque falhou em colaborar"
Ainda atordoado com a decepção imposta pelos inspetores aos EUA e penalizado com a expressão atônita de Colin Powell, cujas mentiras foram desmascaradas em público, a vivo e a cores para todo o mundo, que acompanhava a sessão do Conselho de Segurança pela televisão, o ministro das relações exteriores da Inglaterra, Jack Straw, fingiu que não tinha ouvido os depoimentos dos inspetores de disse que "o Iraque falhou em colaborar e seguir instruções da comunidade internacional". Ouvindo Jack Straw falar, Hans Blix e Mohamed el-Baradei se entreolharam como se não estivessem acreditando nas palavras do ministro inglês.
Desmoralizado, Colin Powell renova ameaças ao Iraque
Contendo a cólera com os inspetores que desmoralizaram seu pronunciamento-armação do dia 05 de fevereiro, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, desconsiderou o discurso ouvido e despejou sua ira em Saddam Hussein, dizendo que "o Iraque vai sofrer sérias conseqüências por não seguir à risca a resolução 1441 da ONU". Ninguém entendeu nada.
O novo herói do Conselho de Segurança
A expressar a posição da França, o ministro das relações exteriores Dominique Villepin contradisse Colin Powell e Jack Straw, dizendo que o Iraque colaborando com as inspeções e, mais ainda, que "o uso da força seria perigoso com risco para a população, para a região e para a estabilidade internacional, devendo ser visto apenas como último recurso". Ao encerrar seu discurso, Villepin disse que a França está comprometida em construir um mundo melhor, sendo muito aplaudido.

Iraque renuncia à presidência da Conferência sobre Desarmamento
Na 6ª feira, dia 14 de setembro de 2003, ao tempo que os inspetores de armas Hans Blix e Mohamed ElBaradei apresentavam seus relatórios positivos no plenário do Conselho de Segurança, o governo do Iraque em carta à ONU renunciando à presidência da Conferência sobre Desarmamento de Genebra, declinando de um posto que lhe pertenceria naturalmente a partir do dia 17 de março, tendo em vista o sistema rotativo que determina sua condução. Que coisa mais estranha!
Aviões-espião começam a sobrevoar o Iraque
Na 2ª feira, dia 17 de fevereiro de 2003, um avião-espião norte-americano U-2, segundo dizem a serviço da ONU, fez o primeiro vôo de reconhecimento sobre o território iraquiano. Foi o primeiro sobrevôo do país dentro do programa de inspeção aérea autorizado pelo governo em atendimento a mais uma das exigências dos inspetores da ONU. Foram 4 horas e 20 minutos de bisbilhotagem aérea que, a exemplo, das bisbilhotagens terrestres, nada encontrou. Onde estarão as tais armas de destruição em massa que os norte-americanos dizem existir?

ONU pede paz aos EUA
Em sua sessão da 3ª feira, dia 18 de fevereiro de 2003, o plenário da ONU foi palco de mais uma retumbante manifestação pela paz no mundo. Representantes de 27 países sem assento no Conselho de Segurança se revezaram no parlatório para, usando a linguagem diplomática de "dar mais tempo aos inspetores", condenar a intenção guerreira de George W. Bush. No dia seguinte, outros 29 embaixadores ocuparam a tribuna para também expressar a posição de seus países contrária à guerra. De todos os países que oficializaram posição perante o plenário das Nações Unidas, só a Austrália, Japão, Argentina e Peru – países que dependem ou têm medo da reação comercial ou militar dos EUA – não apresentaram uma condenação formal dos seus intentos bélicos. A tese que ganhou força entre os países que integram a ONU foi a proposta da França, que emerge como a grande defensora da paz, defendendo a concessão de "mais tempo mais e recursos aos inspetores". Ainda naquela 4ª feira, dia 19, falando na rádio France Info, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, deu mais uma demonstração de que o governo dos EUA não está ligando para a opinião dos outros e acusou os países pacifistas, que querem dar mais tempo aos inspetores, de "temerem sua responsabilidade". Embora a decisão da guerra já esteja tomada, os EUA estão empenhados em conseguir o respaldo oficial da ONU, arrancando, se necessário, à fórceps, uma resolução do Conselho de Segurança autorizando o uso da força contra o Iraque.

Papa recebe Aziz e ora pela paz
Na 5ª feira, dia 13 de fevereiro de 2003, em audiência de 30 minutos no seu gabinete no Vaticano, o papa João Paulo II recebeu o vice-primeiro-ministro do Iraque, o cristão Tariq Aziz, que lhe entregou uma mensagem pessoal do presidente Saddam Hussein. Na ocasião, o Papa reiterou sua oposição aos planos norte-americanos de invadir o Iraque. Na seqüência, Tariq Aziz se reuniu com o secretário de Estado e o ministro das Relações Exteriores do Vaticano, que também se manifestaram contra os intentos guerreiros de George W. Bush. Na 3ª feira, dia 18, o Papa recebeu a visita do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para que repetiu a posição da Igreja Católica contra a iminente invasão do Iraque pelos EUA.

Colocando a hipocrisia diplomática de lado, a Alemanha diz a verdade sobre a guerra
Que armas, que nada. Bush quer o petróleo do Iraque
Em entrevista publicada pelo jornal Die Welt na 4ª feira, dia 19 de fevereiro de 2003, o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Juergen Trittin, disse que, ao contrário do discurso contra armas de destruição em massa, os EUA querem a guerra para "controlar o petróleo do Iraque, fortalecendo, assim, sua posição econômica e geoestratégica". Desabituado a ouvir a verdade, o governo norte-americano ficou tiririca com o governo alemão.

Árabes contra a guerra
Em seu encontro extraordinário, no domingo, dia 16 de fevereiro de 2003, os 22 chanceleres da Liga Árabe acertaram que os países árabes devem negar "qualquer tipo de apoio a uma ação militar contra o Iraque". Em nota distribuída à imprensa, os ministros dizem: "reafirmamos a necessidade de nossos países deixarem de oferecer assistência ou instalações a qualquer ação militar que represente uma ameaça à segurança e a integridade do território iraquiano". O presidente do Egito, Hosni Mubarak, informou que vai propor uma reunião de emergência da Cúpula Árabe para os dias 27 e 28 em Sharm el-Sheik.

Guerra pode custar caro aos EUA
Em artigo publicado no jornal The Washington Post na 4ª feira, dia 19 de fevereiro de 2003, o ex-assessor de segurança nacional da Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, afirmou que o comportamento do governo Bush vem despertando uma crescente oposição à sua política, o que pode custar a liderança internacional aos EUA. Num raro laivo de sinceridade, Zbigniew Brzezinski reconheceu que "o Iraque não representa uma iminente ameaça à segurança global" e, se a preocupação do governo Bush fosse a segurança mundial, deveria "tratar com maior seriedade a verdadeira e iminente ameaça representada pela Coréia do Norte".

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