6 de Maio de 2005
Numha altura em que a guerra de libertaçom nacional iraquiana incrementa a sua intensidade em forma de ataques de todo o tipo contra interesses imperialistas no país, a
A seguir, e polo seu interesse para percebermos a natureza dos factos que sacodem o país árabe, oferecemos a traduçom galega da entrevista, como mais um contributo de apoio incondicional do nosso partido à luita do povo iraquiano pola sua soberania nacional:
"Cumpre é manter a resistência armada afastada do fanatismo religioso ou de qualquer identificaçom étnica ou confissional"
Abu Yusef [1] identifica-se como representante da "[…] corrente patriótica das [dissolvidas] Forças Armadas iraquianas integradas na resistência".
Abu Yusef, de apousado falar e expressividade discreta, cabelo e bigode com algumhas brancas, cuja idade pode andar por volta dos 55 anos, é ex-general:
"Parte das acçons da resistência iraquiana contra os ocupantes está a ser dirigida por membros do antigo exército iraquiano", que tinha sido dissolvido, junto ao Partido Baaz, polo administrador da Autoridade Provisória da Coligaçom, Paul Bremer, no Verao de 2003.
Além do Partido Baaz, a Aliança Patriótica Iraquiana e a Uniom do Povo (organizaçom formada por dirigentes e militantes comunistas dissidentes da linha colaboracionista do Partido Comunista Iraquiano), o MOL está a participar no debate para a formaçom de umha denominada Frente de Libertaçom Nacional [2], que deverá apresentar-se como o ramo político da resistência militar à ocupaçom.
Contra o hegemonismo e o sectarismo
O encontro com a delegaçom da CEOSI decorre numha casa de Bagdad sem particulares medidas de segurança.
Sem que seja preciso estabelecê-lo, renunciamos a gravar a conversa, tirar fotos ou filmar.
Abu Yusef adianta no início da sua intervençom umha clara definiçom da resistência iraquiana:
"A resistência iraquiana rejeita o terrorismo, o seqüestro, a extorsom, o assalto a moradias e os ataques contra templos; protege as instituiçons académicas e públicas, umha vez que som património colectivo do povo iraquiano. A resistência iraquiana tem como objectivo expulsar os ocupantes e preservar a unidade do território e do povo iraquianos".
Abu Yusef é categórico no que di respeito à natureza do movimento insurgente: "[…] defenderá o princípio de cidadania e respeitará a vontade popular" umha vez atingida a libertaçom do país dos ocupantes.
Acrescenta que "cumpre é manter a resistência armada afastada do fanatismo religioso ou de qualquer identificaçom étnica ou confissional".
Abu Yusef adere à reiterada consideraçom de todos os nossos interlocutores durante a nossa estada no Iraque quanto à tentativa estado-unidense e das forças colaboracionistas iraquianas de induzir artificialmente um conflito civil no Iraque. [3].
É nessa altura que na reuniom nos mostram umha listagem que inclui um milhar de nomes e dados de pessoas alegadamente contrárias à ocupaçom e que deverám ser assassinadas.
A lista -que foi filtrada por funcionários do ministério iraquiano do Interior à resistência- foi elaborada conjuntamente polas milícias do Congresso Supremo da Revoluçom Islámica no Iraque (CSRII), a organizaçom Badr e as milícias de Ahmad Chalabi, e confirmaria a posta em andamento de esquadrons da morte no Iraque.
Neste mesmo senso, Abu Yusef criticou a fetua (édito islámico) do aiatolá as-Sistani de 22 de Março, em que se sanciona a entrega de informaçom aos serviços secretos e de segurança iraquianos sobre a resistência e a oposiçom, um édito "que nom só nom condena a ocupaçom, como a apoia e beneficia aprofundando simultaneamente no projecto de confronto interno iraquiano", indica o nosso interlocutor.
Objectivos legítimos
Perguntado sobre o nível de unificaçom atingido entre os distintos grupos armados, Abu Yusef frisa que "a resistência está numha fase de melhoramento da sua coordenaçom, enquanto continua o processo de criaçom de comandos unificados territoriais".
Abu Yusef elude responder sobre o número de efectivos da resistência, assinalando que: "o importante nom é tanto o número de combatentes, como o número de civis que a apoiam".
A resistência iraquiana, acrescenta Abu Yusef, "está a desenvolver umha experiência distinta da dos movimentos guerrilheiros do período dentre a II Guerra Mundial e a década de 70", tendo em conta, aliás, que nom dispom de bases seguras como tinha sido o caso, por exemplo, do Vietcong.
Abu Yusef mostra-se nisto muito crítico ao vincar que nengum país árabe limítrofe do Iraque dá qualquer apoio à resistência e que, ao contrário, colaboram com os ocupantes.
A resistência iraquiana, continua Abu Yusef, financia-se exclusivamente com contributos internos iraquianos.
Abu Yusef diferencia entre o que ele denomina "objectivos legítimos" da actividade armada e aqueles que nom som tais:
"Os ocupantes, os traidores e colaboracionistas [som objectivos legítimos da actividade armada]. Som objectivos da resistência igualmente a Polícia iraquiana e a Guarda Nacional, milícias criadas polos ocupantes para se protegerem da resistência e que som utilizadas na actualiadade como vanguarda das forças de ocupaçom [nos operativos contrainsurgentes]".
No entanto, Abu Yusef é categórico ao sublinhar que a resistência nunca recorre a carros armadilhados nem realiza ataques indiscriminados que custarem a vida a civis iraquianos".
"A resistência -acrescenta- recorre a ataques com bomba nas bermas [contra colunas de viaturas das forças de ocupaçom", bombardeamento com mísseis e projécteis de morteiro, lança-granadas e armamento ligeiro".
Abu Yusef refere a expressom "cartas misturadas" para descrever a confusom e manipulaçom das reivindicaçons via Internet de acçons legítimas de resistência como atentados terroristas por parte de grupos associados à rede Al Qaeda ou a az-Zarqawi.
Por vezes, assinala Abu Yusef, algumhas das acçons indiscriminadas adjudicadas a estes ramos som obra de "correntes religiosas de jovens árabes estrangeiros nom associados a Al Qaeda", e desligados da resistência interior.
Som igualmente alvos legítimos a infraestrutura petrolífera, enquanto as empresas estatais iraquianas fornecerem petróleo às empresas estado-unidenses do consórcio Halliburton, bem como as colunas de camions-cisterna que nutrem de carburante as forças de ocupaçom, e que podem ser vistos habitualmente na rede de estradas da periferia da capital escoltados por veículos blindados estado-unidenses.
Todavia, Abu Yusef indica que nem todas as sabotagens contra oleodutos som obra da resistência, um dado que reiterarám outros interlocutores da delegaçom da CEOSI durante a nossa estada no Iraque: em ocasions, designadamente no Sul, mas também na rede Kirkuk-Ceyhan do Norte, funcionários iraquianos associados a mafias repressam clandestinamente o petróleo deitado ou incrementam a cifra da quantidade de crude queimada num ataque para a seguir o venderem de contrabando.
Retirar-se do Iraque
Temos certeza que os EUA vam sair do Iraque, que estám a tentar arranjar maneira de sair do Iraque.
Para tal, estám a estabelecer e proteger entidades e forças [de segurança] internas que som continuidade das milícias dos partidos vindos com os ocupantes: a sua lealdade é ao dinheiro, nom ao País", assinala Abu Yusef.
Após citar Winston Churchill ("os estado-unidenses enganam-se umha vez, voltam a enganar-se umha segundda vez, mas à terceira batem certo"), Abu Yusef afirma nom ter dúvida que mais cedo do que tarde os ocupantes irám abrir umha negociaçom directa com a resistência militar -tentativas de negociaçom que, como outros interlocutores da delegaçom indicarám, estariam já a produzir-se desde há nom menos de oito meses.
Notas:
1. Abu Yusef nom é necessariamente um pseudónimo. Popularmente, nos países árabes, os homens substituem o seu nome civil original polo do seu primeiro filho ou filha precedido por "pai de".
2. A delegaçom da CEOSI tivo acesso a dous rascunhos deste documento, elaborados por distintas organizaçons promotoras da Frante, que num deles acrescenta à denominaçom de Nacional também a de Islámico: Frente de Libertaçom Nacional e Islámica.
3. Abu Yusef enfatiza a toleráncia que tem caracterizado o Iraque tradicionalmente como um exemplo pessoal de curioso sincretismo religioso: a sua mae, mussulmana, ante a demora a engravidar, recorreu a umha imagem da Virgem dos cristaos iraquianos para o conseguir, pondo-lhe velas numha igreja.
http://www.primeiralinha.org/destaques6/entrevista-iraque.htm
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