terça-feira, 18 de setembro de 2007

RESISTÊNCIA DO POVO IRAQUIANO

Santiago, 21 de novembro de 2003
Por que estou com a resistência no Iraque e por que a insurgência vai vencer a guerra

Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho-
Vermelho


Já virou lugar-comum as manchetes dos jornais registrarem ataques diários às tropas de ocupação e a alvos diplomáticos no Iraque ocupado.
O discurso de Bush e caterva não se altera.
Continuam dizendo que tais atos são feitos por "seguidores de Saddam", "radicais do Baath" (Partido de Saddam), "terroristas de outros países", "criminosos e bandidos".
Dizem que estão todos desesperados com o "sucesso" (sic) da administração americana.
A verdade é bem outra.
Tudo parece seguir um detalhado e meticuloso plano traçado por um comando estratégico, coordenado e que age em todo o território iraquiano.
É até provável que Saddam, que segue vivo, possa participar desse processo de resistência.
Mas as coisas são bem mais amplas do que isso.
Não se pode esquecer que foram mortos até o momento em torno de 400 soldados americanos e uma estimativa, por baixo, mais de 20 mil iraquianos, soldados e civis mortos.
Seus familiares são potenciais seguidores e aderentes da insurgência.
A transição do poder aos iraquianos

A grande imprensa noticiou com alarde a ida do administrador americano no Iraque, Paul Bremer a Washington e às pressas.
Foi discutir com Bush um novo plano, uma antecipação da passagem do poder americano aos iraquianos de confiança dos EUA.
O acerto de contas final foi de que o Conselho de Governo Iraquiano fixasse um calendário até 15 de dezembro, com datas precisas sobre aa transição do poder. Tal Conselho, como se sabe, é formado por 25 iraquianos (sunitas, xiitas e curdos), todos de absoluta confiança dos Estados Unidos (um desses já foi executado pela resistência) e é presidido por um curdo, Jalal Talabani, do PKK. Todos, sem exceção, prestam um desserviço à pátria iraquiana.
Um relatório reservado da CIA acabou sendo divulgado onde fica claro que um número cada vez maior de iraquianos vem aderindo à resistência armada à ocupação.
O relatório vai além: adverte que se as retaliações americanas aumentarem, as coisas podem tomar um rumo de rebelião civil generalizada.
Tal relatório chega a criticar o próprio Conselho, que tem em sua composição alguns ex-exilados e que estes não teriam suficiente respaldo do povo.
A proposta que tem sido apresentada por esse Conselho, órgão ilegítimo de poder iraquiano, é de que até junho de 2004 seriam eleitos os deputados para escreverem uma nova Constituição.
Num prazo de mais um ano, seriam realizadas eleições "livres e diretas" para todos os cargos, inclusive o de presidente, o que ocorreria em 2005.
As tropas americanas não deixariam o país, mas seriam "convidadas" a ficar pelo novo "governo iraquiano".
A tática da insurgência iraquiana
Nenhuma operação de guerrilha da resistência iraquiana foi desencadeada de forma voluntarista, sem planejamento e controle.
Todos os seus alvos tiveram sempre um objetivo determinado.
É como se seguissem velhos manuais de guerra.
O mais famoso deles e que deve estar sendo seguido à risca é o intitulado A arte da guerra, do estrategista militar chinês chamado Sun Tzu, que viveu há 2,5 mil anos.
Algumas idéias militares que saltam aos olhos:
1. a melhor estratégia é atacar a estratégia do inimigo — ao que tudo indica, a pouca resistência à ocupação de Bagdá foi previamente definida pelo alto comando iraquiano.
Aparentemente dispersos, os iraquianos recuaram de forma organizada e levaram consigo grande quantidade de armamentos — o que vem sendo comprovado pelo poder de fogo dos ataques da resistência.
Isso de certa forma desnorteou os militares americanos;
2. a resistência deve atacar os aliados do inimigo — lembremos o ataque à embaixada jordaniana em Bagdá em 7 de agosto, matando 11 e ferindo dezenas. Isso porque esse país, sempre aliado dos EUA, autorizou a decolagem de 26 caças americanos F/A — 18 numa operação secreta que bombardeou bases iraquianas de onde poderiam ser desfechados ataques diretos a Israel.
No início de setembro, o ataque ao quartel general da ONU, que matou o embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
Isso fez com que a própria ONU se retirasse do país com seu pessoal.
A chancelaria turca em Bagdá também foi atacada em meados de outubro.
A sede do comitê Internacional da Cruz Vermelha foi duramente atingido ainda em outubro, de forma que também eles abandonaram o país com seu pessoal.
Por fim, neste mês de novembro, o ataque ao quartel general dos italianos, que matou o maior número de soldados depois da II Guerra Mundial (em torno de 20 com dezenas de feridos).
Isso segue um padrão determinado.
A cada ataque desferido aumentam o medo e o pavor entre as tropas de ocupação e faz com que países árabes que seriam aliados dos EUA acabem se afastando da coalizão.
Isso ocorre com a Turquia e a Espanha, que retiraram tropas ou as diminuíram significativamente, como fez o Japão;
3. ataque sempre o exército inimigo — esta é uma das regras de ouro da insurgência iraquiana.
O mais espetacular ataque foi desferido contra o quartel general do comando americano, no hotel Al Rashid.
Nesse ataque, vários andares ficaram destruídos, morreram muitas pessoas, mas o mais espetacular é que Paul Wolfowitz, mentor da nova direita americana, quase foi liquidado, quando uma bomba explodiu no quarto ao lado onde estava hospedado.
Assim descreveu o jornal em língua francesa, Le Temps editado na Bélgica sobre o sub-secretário: "quando se apresentou aos jornalistas em uma coletiva à imprensa convocada para o domingo depois do atentado o número dois do Pentágono visivelmente não se sentiu bem. Embora sendo um dos mais seguros e bem guardados da capital, fora atingido por nada menos do que doze mísseis.
Em trajes que em outras épocas seriam descritos como 'descontraídos', a face lívida, aquele que fora um dos principais arquitetos da guerra ao Iraque, veio explicar, com voz alterada, sua convicção de que, apesar dos ataques sucessivos às forças da coalizão, as suas forças estão em vias de triunfar em sua missão, terá este ardente defensor da guerra preventiva mostrado a mesma certeza em privado".
A marca da resistência tem sido a derrubada sistemática de helicópteros, de vários tipos, infringindo pesadas baixas no inimigo.
Como diz o ex-agente da CIA, Milt Bearden, em artigo citado nesta coluna, o século XX acabou por dar ao mundo duas grandes lições.
Uma delas trata de uma verdade histórica, segundo a qual nenhum país que invadiu outro país soberano conseguiu ser vitorioso e todas as insurgências de caráter nacionalista e patriótica saíram-se vitoriosas nesses combates pela independência e emancipação nacional. Por que o Iraque seria diferente?
Dessa forma, como cidadão militante e patriota, não temos outro caminho senão apoiar com firmeza e perseverança a luta da resistência iraquiana contra o exército invasor da coalizão anglo-americana.
Os guerrilheiros do Iraque estão com a razão.
O seu país deve voltar para as mãos de seu próprio povo.
E, seguramente, nesse momento histórico, os que traíram a pátria e se aliaram e se venderam aos inimigos serão duramente castigados.
Apoiar hoje a luta pela saída das tropas de ocupação é uma tarefa diária e cotidiana de patriotas de todo o mundo.

Lejeune Mato Grosso Xavier de Carvalho, sociólogo, professor da Unimep e membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabes de Lisboa.
[Artigo tirado do 'Diário Vermelho' do Brasil,
20 de novembro de 2003]


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ÚLTIMA REVISIÓN: 21/11/2003

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