Uri Avnery is an Israeli writer and peace activist with Gush Shalom.
He is one of the writers featured in The Other Israel: Voices of Dissent and Refusal.
Uri Avneri: “Todos os regimes coloniais na história disseram o mesmo. Nenhum governante estrangeiro, quando confrontado com um levantamento do povo oprimido, alguma vez reconheceu o inimigo como combatente legítimo”.
Uri Avnery: Bloqueio de Gaza é "pior que crime"
Uri Avnery é um israelense HONRADO.
Uri Avnery é um israelense HONRADO.
Leiam o texto e vcs entenderão o porquê da ação CRIMINOSA dos israelenses contra os habitantes de Gaza.
Uri Avnery: Bloqueio de Gaza é "pior que crime"
PARECEU a queda do muro de Berlim.
Não ‘pareceu’, apenas.
Por um momento, o cruzamento em Rafah foi o Portão de Brandenburg.
É impossível não se emocionar quando a multidão de oprimidos e famintos rompe um muro que os impede de avançar, olhos brilhantes, todos se abraçando –, emocionar-se muito,mesmo que se saiba que foi nosso governo, o governo de Israel, que construiu aquele muro.
A Faixa de Ghazaa é a maior prisão da Terra.
Abrir uma passagem no muro, em Rafah, foi um ato de libertação.
Provou-se que políticas desumanas são sempre políticas de estupidez: nenhum poder conseguirá jamais conter uma multidão que já tenha cruzado a fronteira do desespero absoluto.
Esta é a lição de Ghazaa, janeiro, 2008.
CABERIA AQUI a frase famosa do estadista francês, do tempo de Napoleão I, Boulay de la Meurthe[1], com pequena adaptação: “É pior que crime de guerra: é uma estupidez!”
Há vários meses, os dois Ehuds – Barak e Olmert – impuseram um bloqueio à Faixa de Ghazaa e vangloriaram-se muito.
Depois, foram apertando o nó mortal cada vez mais, até que já praticamente nada entrava na Faixa.
Semana passada tornaram absoluto o bloqueio – nem comida, nem remédios.
As coisas chegaram ao paroxismo quando suspenderam também o fornecimento de combustíveis.
Grandes áreas de Ghazaa ficaram sem eletricidade – para as incubadoras para bebês prematuros, para máquinas de diálise, para bombas de água e para evacuar esgotos.
Centenas de milhares de pessoas ficaram sem calefação, sob frio intenso, sem poder cozinhar, sem o que comer.
Vezes sem conta a Rede Aljazeera levou aquelas imagens para milhões de lares em todo o mundo árabe.
Muitas outras redes de televisão exibiram as mesmas imagens.
De Casablanca a Aman, explodiram protestos de massa nas ruas que assustaram os regimes árabes autoritários.
De Casablanca a Aman, explodiram protestos de massa nas ruas que assustaram os regimes árabes autoritários.
Hosny Mubarak telefonou em pânico para Ehud Barak.
Na mesma noite, Barak foi obrigado a suspender, pelo menos temporariamente, o bloqueio que, desde a manhã, impedia a entrega de combustível na Faixa.
Exceto por isto, o bloqueio continuou total.
Difícil imaginar ato político mais estúpido.
A RAZÃO apresentada para matar de fome e frio 1,5 milhão de seres humanos confinados num território de 365 km2 é o continuado bombardeio de foguetes Qassam sobre cidade de Sderot e arredores.
É razão cuidadosamente pensada para unir o que há demais primitivo e o que há de mais pobre na opinião pública em Israel.
Faz calar as críticas que viriam da ONU e de governos em todo o mundo que, de outro modo, protestariam contra uma punição coletivamente aplicada a populações civis que, sem dúvida alguma, configura crime de guerra nos termos da lei internacional.
Apresenta-se ao mundo um quadro simplificado: o regime de terror do Hamás lança mísseis contra inocentes civis israelenses.
Nenhum governo pode tolerar que seus cidadãos sejam bombardeados dentro de suas fronteiras.
O exército de Israel não tem resposta militar para enfrentar os foguetes Qassam.
Portanto, não lhe resta outra saída além de pressionar a população de Ghazaa, na esperança de que se levante contra o Hamás e faça parar o bombardeio de Qassams.
No dia em que Ghazaa ficou totalmente sem eletricidade, os correspondentes militares israelenses festejaram: só dois foguetes Qassams foram disparados de dentro da Faixa.
Então o bloqueio funciona!
Ehud Barak é um gênio!
No dia seguinte, com 17 Qassams lançados contra Israel,a alegria sumiu.
Políticos e generais israelenses estavam(literalmente) frenéticos, fora de si: um político propôs“ações mais loucas que as deles”; outro propôs "bombardeara área urbana de Ghazaa indiscriminadamente, a cada Qassam disparado",
Um famoso professor (conhecido por ser ligeiramente perturbado) propôs que se adotasse "o mal absoluto".
Um famoso professor (conhecido por ser ligeiramente perturbado) propôs que se adotasse "o mal absoluto".
O modo de atuar do governo israelense é hoje uma repetição do que já fizeram na Segunda Guerra do Líbano (espera-se para os próximos dias a publicação do relatório sobre aqueles dias).
Daquela vez: o Hizbullah capturou dois soldados israelenses, em território de Israel.
Hoje: o Hamás bombardeia casas e cidades em território de Israel.
Daquela vez: precipitadamente, o governo decidiu entrarem guerra.
Hoje: precipitadamente, o governo decidiu impor bloqueio total.
Daquela vez: o governo ordenou bombardeio massivo contra civis, para pressionar o Hizbullah.
Hoje: o governo ordena o massacre, pela fome e pelo frio,de população civil, para pressionar o Hamás.
Os resultados são os mesmos, nos dois casos.
Daquela vez: a população não se levantou contra o Hizbullah; aconteceu exatamente o contrário: pessoas de todos os credos e grupos religiosos reuniram-se numa mesma organização xiita.
Hassan Nasrallah tornou-se herói de todo o mundo árabe.
E hoje: a população cada vez mais unida num Hamás cada vez mais forte, acusa Máhmoude Abbás de colaborar com o inimigo.
Uma mãe que não tenha comida para dar aos filhos não mal diz Ismail Haniyeh.
Ela maldiz Olmert,Abbas e Mubarak.
ENTÃO, o que fazer?
Afinal de contas, não se pode tolerar o sofrimento dos habitantes de Sderot, que vivem sob fogo constante.
O que todos ocultam da opinião pública é que é possível fazer parar o bombardeio de Qassams amanhã de manhã.
Há vários meses, o Hamás propôs um cessar-fogo.
Esta semana, eles repetiram a mesma proposta.
Para o Hamás, cessar-fogo significa: os palestinos cessam o fogo de Qassams e morteiros; e o exército de Israel cessa as incursões em Ghazaa, os assassinatos por armas ‘inteligentes’ em alvos ‘selecionados’ e o bloqueio.
Por que o governo israelense não aceita imediatamente esta proposta?
É simples: para aceitar esta proposta, o governo de Israel tem de falar com o Hamás, direta ou indiretamente.
É simples: para aceitar esta proposta, o governo de Israel tem de falar com o Hamás, direta ou indiretamente.
Isto, precisamente, é o que o governo de Israel recusa-se a fazer.
Por quê?
Outra vez, é muito simples: porque Sderot é apenas um pretexto – como também os dois soldados capturados foram apenas um pretexto – para coisa muito diferente.
O objetivo geral de toda a ‘operação’ é derrubar o regime do Hamás em Ghazaa e evitar que o Hamás tome toda a Cisjordânia.
Em palavras simples e claras: o governo de Israel está sacrificando toda a população de Sderot, em nome de uma idéia de antemão condenada ao fracasso.
O governo de Israel está muito mais interessado em pressionar o Hamás– que é, hoje, a cabeça de ponte de toda a resistência palestina – do que em proteger os habitantes de Sderot.
E toda a mídia colabora para difundir a farsa.
JÁ SE DISSE que é muito perigoso escrever sátiras em Israel – porque muitas vezes a sátira torna-se realidade.
Alguns leitores talvez lembrem de um artigo satírico que escrevi há alguns meses.
Lá, descrevi a situação em Ghazaa como uma experiência científica para descobrir até que ponto conseguiríamos chegar, em matéria de matar de fome populações civis e fazer da vida humana um inferno...antes de termos de levantar as mãos e nos render, derrotados.
Esta semana, a sátira virou política oficial do Estado de Israel.
Comentaristas respeitados declararam explicitamente que Ehud Barak e os chefes militares estão trabalhando na linha de “tentativa e erro” e mudam diariamente seus métodos conforme os resultados.
Param de fornecer combustível a Ghazaa, vêem o que acontece e desfazem tudo quando a reação internacional é negativa demais.
Suspendem o fornecimento de remédios, vêem o que acontece, etc.etc.
O objetivo científico justifica os meios.
O homem encarregado deste experimento é o Ministro da Defesa, Ehud Barak, homem de muitas idéias e poucos escrúpulos,homem cujo modo de raciocinar é basicamente pré-humano.
Ehud Barak é hoje, provavelmente, o ser mais perigoso que há em Israel, mais perigoso que Ehud Olmert e Binyamin Netanyahu, perigoso até para a sobrevivência de Israel no longo prazo.
O homem encarregado de executar o experimento é o Comandante em Chefe do Exército de Israel.
Esta semana, ouvimos os discursos de dois de seus predecessores no cargo,os generais Moshe Ya'alon e Shaul Mofaz, num fórum que teve as mais infladas pretensões intelectuais. Descobriu-se ali que ambos têm idéias que os colocam em algum ponto entre a extrema Direita e a ultra-Direita.
São, os dois, homens de cabeça assustadoramente primitiva.
Desnecessário desperdiçar sequer uma palavra sobre as qualidades morais e intelectuais do sucessor imediato de ambos, Dan Halutz.
Se estas são as vozes dos três últimos Comandantes do Exército de Israel, o que dizer do atual, que não pode falar abertamente como os outros?
Que maçã cairia muito longe da mesma árvore?
Até há três dias, os generais ainda podiam defender a opinião de que o experimento estaria dando certo.
A miséria atingira o clímax na Faixa de Ghazaa.
Centenas de milhares de seres humanos enfrentavam a fome total.
O chefe da Agência de Apoio Humanitário da ONU para a Palestina(UNRWA) denunciou o risco de catástrofe humana absoluta.
Só os mais ricos ainda tinham combustível para seus carros,para aquecer as residências e para cozinhar.
O mundo não parou de girar e ouviu-se apenas um murmúrio planetário.
Os líderes dos Estados árabes enunciaram frases o cas e não moveram um dedo.
Barak, que tem talentos matemáticos, podia até calcular o dia em que a população finalmente entraria em colapso.
E ENTÃO, de repente, aconteceu algo que nenhum deles previu, embora fosse o evento mais facilmente previsível do planeta.
Quando alguém põe 1,5 milhão de seres humanos numa panela de pressão e não pára de pôr fogo no palheiro, é certo que tudo explodirá.
Foi o que aconteceu na fronteira entre Ghazaa e o Egito.
Primeiro, foi uma explosão pequena.
Primeiro, foi uma explosão pequena.
Uma multidão juntou-se no posto de fronteira e os policiais egípcios abriram fogo.
Houve dúzias de feridos.
Foi um sinal de alerta.
Dia seguinte veio o grande assalto.
Combatentes palestinos furaram o muro em vários pontos.
Centenas de milhares de palestinos entraram em território egípcio e respiraram fundo.
Estava quebrado o bloqueio.
Já antes disto, a posição de Mubarak era insustentável.
Centenas de milhões de árabes, um bilhão de muçulmanos viram que o exército de Israel fechava apenas três pontos da fronteira de Ghazaa: pelo norte, pelo leste e pelo mar.
O quarto ponto do bloqueio estava entregue ao exército egípcio.
O presidente do Egito, que se apresenta como líder de todo o mundo árabe foi exposto como colaborador numa operação desumana liderada por um inimigo, e apenas para obter os favores (e o dinheiro) dos norte-americanos.
Seus inimigos internos, a Irmandade Muçulmana, exploraram esta situação e o denunciaram, publicamente, aos olhos de seu próprio povo.
Dificilmente Mubarak teria podido manter-se na posição em que estava.
Mas a multidão palestina livrou-o da tarefa de decidir.
Decidiram por ele.
Os palestinos irromperam no Egito como um tsunami.
Agora, Mubarak que decida quando sucumbirá completamente a Israel e reimporá o bloqueio contra seus irmãos árabes.
E quanto ao experimento de Barak?
O que acontecerá agora?
Barak tem poucas opções:
(a) Reocupar Ghazaa.
O exército não gosta desta idéia.
Para os comandantes militares, a reocupação exporá milhares de soldados israelenses a uma guerra de guerrilhas cruel, diferente de todas as intifadas conhecidas.
(b) Apertar novamente o bloqueio e pressionar Mubarak o mais possível, inclusive com o lobby israelense no Congresso dos EUA, para privá-lo dos bilhões que recebe anualmente em troca de serviços prestados.
(c) Fazer do castigo um prêmio, e entregar a Faixa de Ghazaa a Mubarak, como se este fosse o objetivo secreto de Barak, desde o começo.
Passaria a ser tarefa do Egito garantir a segurança de Israel, evitar a chuva de Qassams e expor seus próprios soldados à guerra de guerrilhas na Palestina – depois de o Egito ter imaginado que se havia livrado definitivamente desta área de conflito,e depois de toda a infra-estrutura da Palestina ter sido destruída pela ocupação israelense.
É provável que Mubarak responda: “É muita gentileza sua, mas, não, não, muito obrigado.”
O bloqueio da Faixa de Ghazaa é crime de guerra.
E é pior que isto: é uma estupidez brutal. ***********--------------------------------------------------------------------------------* Worse than a Crime, 25/1/2008, em Gush Shalom [“Grupoda Paz”], em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1199602046/.Copyleft.
Tradução de Caia Fittipaldi. Reprodução autorizadapelo autor e pela tradutora. [1] A frase famosa é “C'est pire qu'un crime, c'estunefaute” (É pior que um crime: é um erro).
Obs.: No artigo acima, foram mantidas as grafias quea tradutora usou para nomes árabes como Gaza (Ghazaa),Rafá (Rafah), Cassam (Qassam), Hamas (Hamás), Hezbolá(Hizbullah) e outros.
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