Poder ao povo (palestiniano)!
Por Jeff Halper*
O povo da Palestina fê-lo novamente – tomar o próprio destino nas suas mãos depois de ter sido abandonado na sua luta pela liberdade pela direcção política “moderada” e, de facto, pela comunidade internacional.
Por Jeff Halper*
O povo da Palestina fê-lo novamente – tomar o próprio destino nas suas mãos depois de ter sido abandonado na sua luta pela liberdade pela direcção política “moderada” e, de facto, pela comunidade internacional.
Hoje [24 de Janeiro] ao princípio da manhã, os palestinianos simplesmente rebentaram com o muro que separa Gaza do Egipto, quebrando um cerco que lhes fora imposto por um governo árabe em colaboração com Israel.
Nesta profunda recusa de uma sociedade civil em aceitar a subjugação, o abandono à sua sorte pelos governos, incluindo o seu próprio, para quem as vidas das pessoas comuns são meros joguetes nas suas charadas políticas, – sendo que Annapolis e o decorrente “processo de paz” constituem a sua última expressão de cinismo -, nesta recusa, nós, os povos do mundo, devíamos ver grandes motives de orgulho e encorajamento.
Nesta profunda recusa de uma sociedade civil em aceitar a subjugação, o abandono à sua sorte pelos governos, incluindo o seu próprio, para quem as vidas das pessoas comuns são meros joguetes nas suas charadas políticas, – sendo que Annapolis e o decorrente “processo de paz” constituem a sua última expressão de cinismo -, nesta recusa, nós, os povos do mundo, devíamos ver grandes motives de orgulho e encorajamento.
Porque os palestinianos representam muito mais do que eles e elas próprias.
A sua recusa em submeter-se ao ditames dos governos, ou à falta de interesse dos governos no bem-estar do povo em geral, reflecte o desejo de biliões de pessoas oprimidas por identidade, liberdade, uma vida decente e concretização dos seus direitos e potenciais, colectivos e individuais.
A maioria dos oprimidos, os “condenados da terra”, como lhes chamou Franz Fanon há meio século, também estão preocupados com a sufocante luta quotidiana pela sobrevivência para organizar e resistir.
Outros resistem numa grande variedade de formas, mas quase sempre são reprimidos pelos seus próprios “dirigentes” políticos e económicos, desaparecendo do mapa anonimamente.
Em alguns, poucos, casos, conseguiram organizar uma resistência efectiva contra a opressão, ou mesmo prevalecer – embora os biliões gastos em guerra “contra-insurreccional” pelos EUA, Rússia, Israel e muitos países “em vias de desenvolvimento” sejam um mau prenúncio para os povos que tentam derrubar regimes opressores.
Nisto os palestinianos encontram-se na vanguarda da insistência dos povos para que sejam respeitados pelos governos os seus direitos, bem-estar e valores fundamentais como seres humanos.
Nisto os palestinianos encontram-se na vanguarda da insistência dos povos para que sejam respeitados pelos governos os seus direitos, bem-estar e valores fundamentais como seres humanos.
E fazem-no (e eu escrevo-o como israelita, com grande desgosto e vergonha) contra uma dos mais implacáveis e fortes potências militares do mundo – uma potência que lhes expropriou 85% da sua terra, que tenta transformar a sua ocupação num regime de apartheid permanente, que gastou décadas a empobrecê-los, a quarta maior potência nuclear, que no entanto se faz passar por vítima.
Não só os palestinianos têm passado pela experiência de desumanização de todos os povos oprimidos e colonizados, não só se tornaram a imagem mesma do maior medo dos ricos e poderosos, como “terroristas” perversos que podem destruir-lhes a civilização privilegiada, mas também foram transformados em cobaias.
Israel consegue ganhar um avanço na indústria da contra-insurreição e ganhar acesso ao núcleo duro do complexo americano de alta tecnologia, ao transformar os territórios ocupados num laboratório para o desenvolvimento de armamento sofisticado e de tácticas para usar contra os povos.
E no entanto o povo palestiniano – e em especial aqueles que na Palestina permanecem firmes – continua não só a resistir mas também a surpreender e a confundir a cada instante o seu putativo amo israelita.
E no entanto o povo palestiniano – e em especial aqueles que na Palestina permanecem firmes – continua não só a resistir mas também a surpreender e a confundir a cada instante o seu putativo amo israelita.
Apesar de um controle ilimitado, de um completo monopólio do uso da força, de uma completa insensiblidade e de um reputado Shin Beit, o serviço de informações militar israelita, os palestinianos votam como querem, resistem, fazem as suas vidas quotidianas com dignidade – e abrem enormes buracos nos muros e nas políticas construídas para aprisioná-los e derrotá-los.
Nada disto está nas cabeças das pessoas desesperadas que passaram hoje para o lado egípcio.
Nada disto está nas cabeças das pessoas desesperadas que passaram hoje para o lado egípcio.
Talvez não tenham a “grande visão”.
E no entanto merecem o respeito e a gratidão de qualquer pessoa que deseje um mundo melhor, baseado em direitos humanos e em dignidade, um mundo inclusivo.
Como judeu israelita, tem-me entristecido e mortificado ver que o meu próprio povo, depois de ter passado por tudo o que passou, não veja o que está a fazer a outros.
Mas, numa escala mais ampla, não como judeu israelita mas como ser humano, sinto-me encorajado pela activa recusa dos palestinianos a deixarem-se abater sob um sistema global que produz riquezas e crescimento inimagináveis para uns poucos à custa de um aumento das fileiras dos condenados.
Não sou um palestiniano, não sou um dos oprimidos.
Não sou um palestiniano, não sou um dos oprimidos.
Espero apenas que possa usar os meus privilégios de modo a fazer valer a dádiva do povo de Gaza a todos nós: a compreensão de que o povo tem poder e pode triunfar perante uma potência esmagadora.
Cada um de nós pode assumir a sua responsabilidade perante o povo de Gaza da maneira que mais lhe agrade, mas como privilegiados devemos fazer alguma coisa.
Estamos em dívida com os palestinianos e os palestinianos merecem pelo menos esse apoio.
* Jeff Halper é o presidente do Comité contra as Demolições de Casas
Fonte: MRZine
* Jeff Halper é o presidente do Comité contra as Demolições de Casas
Fonte: MRZine
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