domingo, 30 de março de 2008

SUA TELEVISÃO MENTE!


Vocês já ouviram falar sobre isso, não ouviram?

A “FACE BRANCA” E A “FACE NEGRA” DA NOTÍCIA
Tal como existe uma “economia branca” e uma “economia negra”, nos meios de comunicação – por razões comerciais – também existe uma “face branca” e uma “face negra” das notícias difundidas diariamente.
As “notícias negras” (que disfarçam a verdadeira fonte) nas cadeias mediáticas têm um amplo espectro de penetração massiva que supera largamente qualquer operação psicológica concebida pelos meios militares.
A frase “pacificar e democratizar o Iraque”, por exemplo, difundida diariamente pelos títulos das grandes agências e cadeias, foi decisiva para que os iraquianos se esquecessem da ocupação militar e fossem votar em massa nas duas eleições convocadas por Washington e pelo seu governo fantoche no país ocupado.
Até agora, Bush e os democratas tinham dirimido a sua disputa pela Casa Branca, utilizando o Iraque nas grandes cadeias informativas, valendo-se sobretudo da propaganda “negra” lançada através de golpes de efeito psicológico apresentados como “informação objectiva”.
Há que esclarecer que a propaganda encoberta (tipo “terrorismo da Al Qaeda” ou “torturas no Iraque”) produz resultados demolidores, dado que o público massivo da televisão, da rádio ou dos jornais a consome na ignorância dos interesses e objectivos políticos que veicula, e acreditando que se trata de notícias que não têm outro objectivo para além de informar.
A perigosidade extrema da propaganda “negra” assenta no facto de ser apresentada como se fosse uma “notícia” comum pelos média que o sistema cataloga como “credíveis e sérios”.
Assim, por exemplo, a guerra psicológica eleitoral entre Bush e Kerry desenvolveu-se a partir de títulos e textos informativos de The New York Times, The Washington Post, Reuters, CNN, Associated Press, etc., órgãos de comunicação que são tidos como “fontes confiáveis” até por alguma imprensa considerada “alternativa”.
Não ocorre a ninguém pensar que essas estruturas mediáticas são empresas capitalistas que comercializam e lucram com a informação, tal como outras o fazem com o petróleo, com armas, ou com a especulação financeira.
Assim, por exemplo, os democratas valeram-se das denúncias sobre torturas a presos iraquianos por soldados estadunidenses, ou das clássicas aparições de ex­‑assessores “arrependidos” acusando a administração Bush; ao mesmo tempo, a partir da Casa Branca, teve lugar o habitual “aproveitamento eleitoral” com as incontáveis aparições da Al Qaeda no universo “informativo” da imprensa internacional.
Na realidade, nesta altura da massificação informativa e manipuladora da imprensa internacional (superior a qualquer operação de inteligência militar com acção psicológica), é duvidoso o efeito real que possam ter na opinião pública internacional ou local os segmentos infiltrados de “boas notícias” do Pentágono nas populações denunciadas pelos diários norte-americanos.
Os resultados dessas operações são mínimos quando comparados com o efeito das mensagens manipuladoras enviadas através dos títulos das grandes cadeias e média internacionais.
Nessa operação manipuladora vale mais frequentemente o “ocultamento da informação” do que o que se diz explicitamente no desenvolvimento das notícias. Regra geral – e neste ponto a maioria dos especialistas coincide – as transações do Pentágono e da CIA com as grandes cadeias mediáticas não giram à volta de mensagens combinadas mas sim do ocultamento de informação.
Um exemplo claro disto veio à luz quando este fim-de-semana The New York Times revelou que conhecia desde há muito a informação sobre a espionagem interna ordenada por Bush à Agência Nacional de Inteligência estadunidense.
E por que não a deu a conhecer antes?
Simplesmente porque o diário, durante esse tempo, ainda não tinha tomado uma posição extrema a favor dos interesses de poder que hoje querem derrubar Bush e ficar com a Casa Branca.
Não são poucos os peritos e os estudiosos que advogam que as grandes holding mundiais de imprensa utilizam uma “face negra da informação” subvencionada pelo Pentágono e pela CIA, a qual só é conhecida e negociada pelos altos executivos e responsáveis desses consórcios.
Ou seja, que essa operação de contratar informação encoberta da CIA e do Pentágono faz parte da “política de mercado” desses consórcios comunicacionais, que não existem para dizer a verdade mas sim para acumular lucros através do comércio da informação.
Naturalmente que nessas transações com os grandes polvos da informação mundial não intervêm de forma directa representantes da CIA ou do Pentágono, antes se efectuam por intermédio das “empresas biombo” contratadas para o efeito.
E, naturalmente, há algo que The New York Times e o conjunto da imprensa norte-americana nunca vão contar.
Os “serviços” que as grandes cadeias prestam ao Pentágono e à Casa Branca difundindo diariamente notícias do Iraque ou do Afeganistão provenientes apenas de fontes e porta-vozes militares dos EUA, são infinitamente muito mais rentáveis que qualquer operação de manipulação realizada com a compra de média locais.
Não se trata apenas – como diz o jornalista Robert Fisk – do facto de os correspondentes “informarem sobre o Iraque” a partir das suas casas ou dos hotéis da Zona Verde, mas sim do facto de a esmagadora maioria das notícias sobre o Iraque nas grandes cadeias de massas provirem de fontes do exército dos EUA.
Esse é o ponto fulcral da questão, no qual estão envolvidos não apenas as grandes cadeias televisivas e agências mas também o conjunto dos diários norte-americanos encabeçados pelo The New York Times e The Washington Post.
De tal forma, que estes grandes média (como é o caso do Times e do Post) que denunciam operações pontuais de acção psicológica do Pentágono nos média locais, servem de veículo de transmissão de informação sobre o Iraque proveniente dos porta-vozes do Pentágono.
Este contra-senso só se explica pela guerra interna que mantém uma parte do establishment do poder e dos grandes média estadunidenses com a administração republicana de George W. Bush.
Tudo o que “revelam” ou “denunciam” as grandes cadeias contra Bush (ainda que correspondam a uma realidade objectiva, como é o caso do Iraque) vai no sentido dos interesses desses sectores que querem afastar o actual presidente da Casa Branca.
Ou seja, resumindo a questão, as grandes cadeias mediáticas “anti­‑Bush” denunciam as operações “menores” do Pentágono utilizando “empresas biombo” e média locais, mas escondem zelosamente as “grandes operações de ocultamento e manipulação massiva da informação” de que fazem parte através de transacções secretas com a inteligência norte-americana.
A desinformação (ou a falta de contra-informação) a nível das massas, permite que estas operações de acção psicológica continuem a desenvolver-se sob a forma de “notícias”, ou de informação objectiva, sem que nenhum meio de comunicação do sistema ponha em causa a sua veracidade.
E isto indica claramente que o verdadeiro cenário em que se vai definir a guerra pelo controlo da Casa Branca, daqui em diante, é o campo mediático da propaganda “negra”, onde Bush e os democratas combaterão sem tréguas, sem que a maioria do mundo saiba de nada.
À margem disto, e tal como foram sempre, as cadeias e diários norte-americanos continuarão a ser os maiores contratados privados da informação ao serviço da Casa Branca e do Pentágono.